Há 53 anos – A morte de Salazar

Com cheiro a santidade, odor próprio de cadáveres adiados, faleceu no dia de hoje o mais longevo ditador da Europa do século XX.

Privou-o a graça divina de assistir ao 25 de Abril que merecia desde o primeiro dia da ditadura. Não lhe faltaram o conforto dos sacramentos, as exéquias pias, as carpideiras habituais, a força pública e o público à força para o homenagearem.

Não lhe faltou em vida a cumplicidade do clero nem, na morte, a presença, e o conforto dos sacramentos quando o cérebro já migrara.

Viveu enquanto foi pernicioso e morreu quando já era inofensivo.

                                                                      ***

«Se este homem insubstituível franze o sobrolho

Dois reinos periclitam

Se este homem insubstituível morre

O mundo inteiro se aflige como a mãe sem leite para o filho

Se este homem insubstituível ressuscitasse ao oitavo dia

Não acharia em todo o império uma vaga de porteiro.»

(Bertold Brecht)


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