A PIADA DE FAZER SANTOS
Por Onofre Varela
A propósito do último artigo aqui publicado, pensei acrescentá-lo dizendo que das várias actividades a que a Igreja se dedica, merece-me especial destaque estas três por me parecerem principais:
1) – Celebrações litúrgicas que prendem os crentes ao culto carregando-lhes a bateria da fé;
2) – Acções caritativas e gestão de instituições sociais, com a ajuda de cidadãos caridosos e subsídios estatais;
3) –Produção de santas e de santos, com o estatuto de deuses menores para preencherem altares e colectarem receita, porque a Igreja, sendo uma forte indústria do espiritual, não se governa sem o aspecto material, incluindo nele o "vil-metal".
O Vaticano tem um gabinete específico para a criação de santinhos, denominado “Congregação para a Causa dos Santos”, e há perto de 30 anos a Enciclopédia Católica contava com cerca de 5.000 santos saídos da sua linha de produção.
No pontificado de João Paulo II foram tantas as nomeações de candidatos aos altares que a lista inflaccionou e quadruplicou… hoje contempla, aproximadamente, 20.000 nomes.
A minha abordagem desta tarefa medieval que a Igreja tem de fabricar santos no século XXI, só pode ser feita com humor para não me afectar a qualidade do raciocínio e ajudar-me a manter a razoável sanidade mental que ainda possuo (acho eu!… Há quem garanta que já não a tenho... ou que nunca a tive)!
Atribuir a qualidade de santo a um morto não é como medalhar um herói de guerra, o costureiro da mulher, ou um bombeiro. A coisa fia mais fina, leva imenso tempo e precisa de um "certificado de Deus"!…
Apenas o Santo António foi santificado no tempo recorde de 11 meses e meio. Todos os outros nomes elevados aos altares, levaram imenso tempo para serem santos.
Os candidatos à santidade precisam de vencer três etapas. A saber:
1– Veneração. É uma espécie de requisição de paróquia que aponta as qualidades daquele atleta para trepar a um altar.
2– Beatificação. Precisa de uma análise profunda para despistar reguilices e falcatruas, exigindo, pelo menos, um milagre comprovado... por via das dúvidas.
3– Canonização. É a peneira mais fina que vai analisar a biografia do candidato, seguindo, passo a passo, todos os passos que o morto deu em vida na senda da santidade, para comprovar se Deus pode operar milagres através daquele intermediário. (Repare-se que os parasitas intermediários são uma praga impossível de exterminar! Estão em todo o lado… até no céu!).
Ter o cadáver incorrupto ao fim do tempo regulamentar para levantar a ossada, foi a bitola de aferição da santidade adoptada através dos séculos... mas já não vale como prova porque hoje sabe-se que as características químicas do terreno e a toma de medicamentos pelo candidato a santo (imediatamente antes de ter falecido), são elementos que provocam a preservação do corpo de quaisquer patifes ou inimigos públicos sem escrúpulos, naturalmente arredados da santificação.
Então inventou-se este outro modo de fingir que se atribui seriedade ao acto de fazer santos, o que sempre acontece de acordo com a vontade dos homens, mas apregoado como sendo concedido pela vontade de Deus… o qual (como se sabe) também é produto de invenção humana!…
Então isto não tem piada?...
(O autor não obedece ao último Acordo Ortográfico)
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