O "virgem" de Boliqueime!

A questão dos políticos profissionais não é fútil.
Marca um estilo, uma ideologia e uma forma de estar na política.

O "cavaquismo" existiu. Os boys do Cavaco existiram. A profissionalização partidária foi e é forte (também) nas hostes da direita, do PSD e do Cavaco. Alguém se lembra do "Estado laranja"? Há pouco ressuscitado como "laranja e azul"?

Há um laivo de saudosismo, de sebastianismo, na candidatura de Cavaco.
Não é um Professor de Economia que pode ser eleito para Belém. Há vários e certamente de maior craveira técnico-científica que ele.
Não estamos aqui a fazer uma prova académica, mas um exercício de política, de mobilização e de pedagogia de um povo. E é aí que a afirmação de Cavaco, bem como a resposta de Soares não são inocentes. Revelam uma postura face à democracia da II.ª República. Uma República que tem defeitos e a partidocracia e o "fechamento" dos Partidos é um deles. Concordo.

Mas foi uma República que fez de Portugal um país respeitado, no grupo da linha da frente. Não um país isolado, fora da Europa (como Cavaco queria em 85!!!); não uma Albânia (como alguns queriam), nem um Chile (à Pinochet) - (como outros desejariam).
E nesta 2.ª República há um homem que se destaca: Mário Soares.
Cavaco teve o seu papel. Também com aspectos positivos. Mas muitos, nomeadamente no plano económico-financeiro, negativos e mesmo maus. Vejam http://blogdelsniper.blogspot.com/

E, sobretudo, não tem brilho, nem alma para dar serenidade e confiança a um povo. Quem o eleger - a Direita: sim "as forças vivas da sociedade", sim "os poderes de facto" de natureza económica, social e religiosa - sim a Direita que sempre existiu e existirá (com todo o respeito pelas pessoas em causa - muitos são meus amigos - sou de uma geração claramente de Direita) - dizia - essa Direita vai exigir retorno.
Vai exigir que Cavaco - como sempre fez quando para isso teve poder - satisfaça os seus interesses. Seja em questões de sociedade, seja em questões económicas, seja de poderes corporativos, seja de manter o status quo.

Cavaco é um político. Talvez o segundo mais marcante destes 30 anos. Não tem o direito de aparecer agora, qual D. Sebastião, impoluto, com ar cândido e virginal a distanciar-se da classe a que ele pertence: a dos políticos.
Há bons e maus políticos.
Há boas e más políticas.
Há políticas conservadoras e políticas progressistas.
Soares é o mais lúcido e jovem progressista da melhor classe política e intelectual do país e um dos melhores do mundo.
Quem for progressista está com Soares, quem for conservador está com Cavaco.

Vamos discutir o que é ser progressista e ser conservador?
E deixemo-nos de armar em "virgens"...