A ingratidão é uma coisa filha-da-puta!…
Por Onofre Varela
Em termos anedóticos costumo dizer que de Economia só sei que o meu vencimento termina e o mês continua. Cá em casa funciono como o Presidente da República… não faço nada. A minha mulher acumula as pastas das finanças, da economia e do economato, porque é especialista em fazer contas à vida… eu só vejo, escuto e digo que sim. Exactamente como o presidente da República… só não faço “selfies” nem distribuo beijos a granel!…
Para lá da anedota, não posso deixar de ter sensibilidade de cidadão interessado em melhor futuro do que aquele que políticos e economistas vêm desenhando e me preocupa. No meu tempo de jovem, vivendo sob a ditadura de Salazar, não havia ordenado mínimo e os sindicatos eram “Nacionais”… quer dizer que não eram livres nem democráticos. O Estado ditatorial estava neles e os trabalhadores não tinham voz. O termo “sindicato” não passava de fachada teatral.
Sendo o ordenado mínimo um elemento social imprescindível no mundo do trabalho, ele foi instituído imediatamente após o 25 de Abril de 1974 (um mês depois, em 27 de Maio) com o valor mensal de 3.300$00 (equivalente a 16,46 €). Com o passar do tempo, os cravos vermelhos de Abril murcharam, o ordenado mínimo transformou-se em “ordenado máximo” na pobreza dos trabalhadores, e no resto do mundo o panorama social e político não só é preocupante… também é repugnante!
Por cá, com ordenados tão baixos, o lucro da banca dispara para níveis altíssimos. Notícia recente (Agosto de 2024) diz que a CGD lucrou 1369 milhões de euros em nove meses, e que os lucros dos outro quatro maiores bancos (Santander, Millennium, Novo Banco e BPI) subiram mais de 30% até Junho (2619 milhões de euros). Entretanto, alguns dos clientes destes bancos que contraíram empréstimos para comprarem habitação, perderam as casas por não comportarem os enormes aumentos do juro das prestações mensais estabelecidos por esta economia… na qual sou estrondosamente estúpido.
Neste panorama o governo nada faz em socorro de quem é economicamente mais frágil, mas ajuda os exploradores e abandona os explorados à sua “estupidez”, só porque no regime político e económico por cá estabelecido, chamado capitalista… é assim!… E nós sufragamos tais políticas nas urnas dos votos eleitorais do nosso descontentamento!
A extrema-Direita veste pele de cordeiro em corpo de lobo feroz iludindo os sentidos dos seus seguidores, e cresce pela má prestação de uma “Esquerda” alimentadora dos interesses da Direita… e não é só cá… é em todo o mundo, onde a coisa piora em cada votação popular!…
Nos EUA não é diferente. Em acto eleitoral ganharam os maus contra os menos-maus. Num país formado por imigrantes (os únicos e genuínos americanos são os descendentes das tribos índias que foram dizimadas pelos colonos que são hoje os donos daquelas terras) assistimos a discursos de imigrantes já estabelecidos, contra imigrantes que pretendem estabelecer-se. Os antigos têm medo de perder regalias, esquecendo que também eles já viveram a mesma necessidade e gostaram de ser ajudados!… Agora, egoisticamente, negam ajuda aos seus actuais companheiros na desdita migratória, votando contra quem prometeu protegê-los!…
A ingratidão e o esquecimento histórico são uma coisa filha-da-puta!…
Esta falta de Humanidade é uma calamidade que faz História em todo o mundo. Desde os criminosos desrespeitadores das mulheres em países islâmicos fundamentalistas, passando pela Rússia invasora e destruidora da casa dos vizinhos, até aos criminosos israelitas que perpetram o genocídio do povo Palestino com a assistência impávida e serena do resto do mundo e a ajuda descarada dos EUA.
Aos 80 anos de vida sinto-me humanamente desrespeitado num mundo que não me parece ter sido feito para mim. Observo-o sem vislumbrar possibilidades de um futuro digno para os filhos e netos de uma geração que cumpriu uma vida de trabalho, foi obrigada a participar numa guerra (ou a fugir dela), que sonhou com o Paraíso… e agora oferecem-lhe o Inferno enfeitado de grinaldas escandalosamente mentirosas cheirando a sangue e a pólvora.
(Por preguiça de aprender novas regras, o autor não obedece ao último Acordo Ortográfico. Basta-lhe o Português que lhe foi ensinado na Escola Primária por professores altamente qualificados)
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