Há 485 anos – A inquisição portuguesa
Portugal, tal como Espanha, não teve os benefícios da Reforma, e sofreu a violência da Contrarreforma.
Aos países
ibéricos não chegou a Reforma, causa do atraso a que foram remetidos, mas chegou
a Inquisição, o instrumento da Contrarreforma. A piedade dos Reis Católicos, de
Espanha, Fernando II de Aragão e Isabel I de Castela, que nunca tomaram banho nem
faltaram a obrigações pias, e do sr. Dom João III, o Piedoso, levou-os a
exigirem o santo tribunal. O padecimento de quem não seguisse a única religião
verdadeira, ou de quem pecasse contra ela, garantia-lhes o Paraíso. Os Reis
Católicos, ainda não canonizados, já tinham imposto a D. Manuel I, para acordar
o casamento com a sua augusta filha, entre outras cláusulas, a criação da
Inquisição.
A mercê
papal estorricou bruxas, hereges, judeus, adivinhadores, feiticeiros e bígamos,
com santos Frades dominicanos dedicados à incineração dos vivos e à
criatividade para lhes prolongar o sofrimento, para maior glória de Deus,
recreio de devotos e purificação das almas dos réprobos supliciados.
O Tribunal
do Santo Ofício contou com o entusiasmo de dominicanos, jesuítas e outros
clérigos de mau porte, piores instintos e amplos poderes, de Ordens diferentes,
durante os 285 anos que duraram as perseguições aos hereges (1536-1821). Foi o
liberalismo, esse mal que Pio IX excomungou, a pôr-lhe termo.
Há talvez,
na longa sequência do ADN, um gene da crueldade que molda o cromossoma humano,
e ninguém faz o mal com tanto entusiasmo e tamanha alegria como quem tem uma fé
à prova da clemência e uma devoção que exonera a compaixão, como mostraram
amplamente os santos inquisidores.
O primeiro auto de fé, em Portugal, teve lugar em Lisboa, no Ano da Graça de 1540, no dia 20 de setembro, perante o entusiasmo da Corte e do bom povo temente a Deus.

Comentários