II Guerra Mundial – 1 de setembro de 1939
Há 86 anos, Hitler invadiu a Polónia, apesar dos correligionários que aí tinha, e iniciou a II Guerra. O clima político e económico tinha semelhanças com o atual. As fronteiras e o «espaço vital», hoje trocados pelos mercados, foram detonadores de uma catástrofe em que, pela segunda vez, a Alemanha ganhou todas as batalhas e perdeu a guerra.
Dessa tragédia, do desvario belicista, dessa delinquência nacionalista, a História regista nomes sinistros: Hitler, Goebbels, Bormann, Himmler, Goering, Eichmann, Ribbentrop, Rosenberg e Rudolf Hess.
Hoje, 86 anos depois, parecem mais confiáveis os principais entusiastas da corrida ao armamento e mais generosa a justificação. Defender as fronteiras de um país invadido é bem mais aceitável do que pretender conquistar um território, mas o entusiasmo de dois alemães causa alguma perplexidade.
Friedrich Merz e Von der Leyen, o primeiro em nome da Alemanha, e a segunda no da UE, apoiam o país europeu invadido por outro igualmente europeu, e arrastam a Europa para um confronto que só acabará, como todas as guerras, pela capitulação de um deles, ou à mesa das negociações. E surpreende que, depois de três anos e meio de guerra, jamais tenham equacionado um plano de paz para negociar.
Quem apoiou a divisão da Jugoslávia e o ataque à Sérvia, para lhe amputarem o Kosovo, e se conformou com a ocupação de cerca de 37% do território e divisão do Chipre pela Turquia, certamente justificaria maior recato na defesa de uma causa, por mais justa que seja, com recurso à guerra.
A política externa da UE, ora confiada a Kaja Kallas, só beneficiou a Turquia e a China, dois países que são a antítese das democracias que nós defendemos. Não foi a Rússia, o País invasor da Ucrânia, que virou costas à Europa Ocidental, foi esta que a escorraçou para benefício geoestratégico dos EUA.
Agora, quando os EUA se desinteressam da guerra na Ucrânia, limitando-se a vender-nos armas para manter a guerra, ainda nos impõe tarifas sem reciprocidade e exige o sacrifício de 5% do PIB em detrimento dos apoios sociais. E a senhora Von der Leyen, parece uma gladiadora a gritar ao imperador Cláudio, digo Trump, “Salve, César, aqueles que vão morrer te saúdam”.
O mundo está diferente e quando pensávamos que já não havia um país comunista, apenas ditaduras e democracias, vemos o neoliberal Trump a disparar tarifas e o “comunista” Xi Jinping, a defender o comércio livre! 😊
O que dói é ver a deriva belicista e o desvario de Trump sufragados pela UE e a China a ser a beneficiária da guerra na Europa, que destrói a UE e a confiança nos EUA.
Ontem assistimos ao tropismo da Índia para a China, a esquecer a rivalidade histórica, com o PM Narendra Modi a declarar que o problema das fronteiras estava resolvido.
Abandonámos o Brasil à vingança de Trump, provavelmente a vítima que não resiste a mais uma ditadura pró-americana, e assistimos ao regresso do obscuro regime da Coreia do Norte ao convívio da China, Rússia e Índia.
E a UE fica a persistir na guerra com o RU, o país satélite dos EUA que quis destruí-la. a UE quis isolar a Rússia e isolou-se.
É de desconfiar da pressa e segurança com que a senhora Von der Leyen atribuiu à Rússia o ataque ao sistema de GPS no voo que a levou à Bulgária.
Sabemos como começam as guerras. Raios parta a sorte!
1 de setembro de 2025

Comentários
Dito isto, confesso que cada vez mais considero muito duvidosa a validade da tese que pretende interpretar o mundo a partir da permissa da oposição entre "ditaduras" e "democracias". Afinal, a realidade parece mostrar-nos, consistentemente, e cada vez mais, a imbricação entre os regimes ditos democráticos e práticas nefastas e criminosas, como o demonstra o gritante genocídio do povo palestiniano. O mesmo exemplo poderá servir para creditar o apoio de algumas dessas ditas ditaduras à justa luta desse povo pela constituição de uma pátria livre. Talvez por isso, à mesma luz, seja possível compreender as "tarifas" do neoliberal Trump e a defesa do "comércio livre" do "comunista" Xi Jinping.
Quero com isto dizer que, talvez, os instrumentos de análise que vimos usando já não sejam adequados. Não sei!
Do mesmo modo, por muito que me custe dizê-lo, julgo que não há qualquer "deriva belicista" no comportamento da UE, correspondendo o seu comportamento à essência do modelo de governança que escolhemos para a Europa. Não sei! Quanto aos EUA, tenho como bem assente que não há qualquer "desvario" de Trump, sendo a sua acção totalmente consentânea com a prática reiterada do Império, destoando apenas na sinceridade narcísica como é afirmada!
Não sou capaz de vislumbrar que mundo sairá desta crise global, mas tenho a esperança de que seja mais justo para todos os povos. Definitivamente, Está difícil continuar a dar para peditórios estafados!
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Leitor assíduo do seu blogue, li com interesse o seu post sobre a II Guerra Mundial – 1 de Setembro de 1939, análise com a qual estou de acordo genericamente
Contudo, a dado passo afirma “Não foi a Rússia, o País invasor da Ucrânia, que virou costas à Europa Ocidental, foi esta que a escorraçou para benefício geoestratégico dos EUA”, ponto sobre o qual me permito discordar.
A perspectiva de que a Europa Ocidental, sob a influência dos EUA, "escorraçou a Rússia”, assenta na visão russa (expansão da NATO para leste, revolução Maidan em 2014 como um golpe de Estado orquestrado pelos EUA e pela Europa para instalar um governo pró-ocidental em Kiev, os interesses geoestratégicos dos EUA que incitando conflito, conseguiriam enfraquecer a Rússia, isolá-la da Europa e, ao mesmo tempo, reforçar a coesão da NATO e o papel de liderança americana no continente).
Perspectiva contestável, tendo em equação que:
- Os países do antigo Bloco de Leste não foram "arrastados" para a NATO ou para a União Europeia. A maioria optou livremente por essa aproximação, vendo-a como a melhor forma de garantir a sua segurança e prosperidade, longe da esfera de influência russa.
- Imperialismo russo: a invasão da Rússia na Ucrânia não foi uma reacção defensiva, mas faz parte de um projecto de restauração do seu império, ou, pelo menos, da sua esfera de influência. O discurso de Vladimir Putin sobre a não-existência histórica da Ucrânia como nação independente (“Pequena Rússia”) e a sua visão da queda da União Soviética como uma "catástrofe geopolítica" reforçam esta ideia.
- A União Europeia tem um papel autónomo e não é apenas um satélite dos EUA. A sua resposta à invasão, através de sanções económicas à Rússia e apoio à Ucrânia, demonstra uma tomada de posição independente, motivada pela defesa dos princípios de soberania e do direito internacional, o que agora se tornou ainda mais evidente com a política de Trump de confrontação com UE.
A verdade, como sempre, é complexa e provavelmente reside nalgum ponto entre as duas perspetivas, mas há um facto que é impossível escamotear de que a invasão da Ucrânia pela Rússia é uma clara violação da Carta das Nações Unidas e um acto de agressão que constitui crime à luz do Direito Internacional.
Já o genial Nelson Rodrigues, com uma das suas retumbantes frases, dizia “Toda a unanimidade é burra. Quem pensa com a unanimidade não precisa de pensar”.
Cordiais saudações