Cavaco – O prefácio infeliz e ressentido
Entende-se agora melhor que um estadista da grandeza moral e dimensão intelectual de António Guterres sentisse a necessidade de dar um sinal forte dos riscos que o seu país corria, renunciando ao lugar de primeiro-ministro para que houvesse um sobressalto cívico que evitasse o pântano quando a coligação negativa da AR boicotava sistematicamente a sua governação.
Ninguém mais, depois dele, será capaz de cumprir uma legislatura sem maioria nem de guardar silêncio sobre as patifarias de que foi alvo. Saiu na altura devida, esgotados os esforços para conseguir uma maioria estável, quando Portugal tinha um Presidente da República que era também uma referência da democracia, da ética e da cultura.
Não entendeu o País a nobreza do gesto de Guterres e o desapego ao poder, e o campo ficou livre para os contrabandistas. Durão Barroso chegou a primeiro-ministro sobre o cadáver político de Ferro Rodrigues, assassinado por crápulas capazes de violarem o segredo de justiça , de cometerem erros grosseiros e de conspirarem.
E, assim, chegámos ao pântano actual, com dirigentes sindicais dos juízes a atacarem as leis e a desafiarem o Governo, com o Sindicato dos Magistrados do Ministério Público a mostrar fortes sinais de politização e apetite pela intervenção política, com o Presidente da República a desafiar a Assembleia da República e a fazer oposição ao Governo.
O recém-eleito presidente do Sindicato dos Magistrados do Ministério Público, sem a inteligência, a legitimidade e a elegância de Carvalho da Silva, fez ameaças com o caso Freeport, afirmando que há magistrados que se deixam intimidar e que ele próprio, quando o entendesse, as revelaria.
Na ditadura era obrigatório dizer bem do Governo ilegítimo. Agora, em democracia, é forçoso dizer mal do Governo legítimo.
Só faltava, nesta desgraça que nos corrói, que o PR a quem faltou ponderação e sensatez para suscitar a inconstitucionalidade de alguns artigos do Estatuto dos Açores, assunto em que tinha razão, para afrontar politicamente a Assembleia da República, ficasse ressentido com o isolamento e a derrota política que averbou.
A vingança não é apanágio das grandes almas, é a marca de espírito de quem carece de compreensão, cultura e sensibilidade para respeitar os outros órgãos, sobretudo quando não é inferior à sua a legitimidade de que estão investidos.
O PR que entregou um prefácio medíocre de um livro de discursos, ao Expresso desta semana, é um político ressentido e vingativo que, desesperado com a oposição dos seus correligionários, se prepara para os liderar. Quando a razão lhe assiste, como no caso do Estatuto dos Açores, perde-a pela forma desastrada que usa. Quando lhe falta a razão, como no diploma da comunicação social, serve-se da forma para errar a decisão.
Podia ter aguardado o fim do mandato, tentar acabá-lo com dignidade, não embarcar na luta partidária e lembrar-se da experiência de Eanes com o PRD.
Adenda - O prefácio está publicado no Expresso (sítio indisponível).
Ninguém mais, depois dele, será capaz de cumprir uma legislatura sem maioria nem de guardar silêncio sobre as patifarias de que foi alvo. Saiu na altura devida, esgotados os esforços para conseguir uma maioria estável, quando Portugal tinha um Presidente da República que era também uma referência da democracia, da ética e da cultura.
Não entendeu o País a nobreza do gesto de Guterres e o desapego ao poder, e o campo ficou livre para os contrabandistas. Durão Barroso chegou a primeiro-ministro sobre o cadáver político de Ferro Rodrigues, assassinado por crápulas capazes de violarem o segredo de justiça , de cometerem erros grosseiros e de conspirarem.
E, assim, chegámos ao pântano actual, com dirigentes sindicais dos juízes a atacarem as leis e a desafiarem o Governo, com o Sindicato dos Magistrados do Ministério Público a mostrar fortes sinais de politização e apetite pela intervenção política, com o Presidente da República a desafiar a Assembleia da República e a fazer oposição ao Governo.
O recém-eleito presidente do Sindicato dos Magistrados do Ministério Público, sem a inteligência, a legitimidade e a elegância de Carvalho da Silva, fez ameaças com o caso Freeport, afirmando que há magistrados que se deixam intimidar e que ele próprio, quando o entendesse, as revelaria.
Na ditadura era obrigatório dizer bem do Governo ilegítimo. Agora, em democracia, é forçoso dizer mal do Governo legítimo.
Só faltava, nesta desgraça que nos corrói, que o PR a quem faltou ponderação e sensatez para suscitar a inconstitucionalidade de alguns artigos do Estatuto dos Açores, assunto em que tinha razão, para afrontar politicamente a Assembleia da República, ficasse ressentido com o isolamento e a derrota política que averbou.
A vingança não é apanágio das grandes almas, é a marca de espírito de quem carece de compreensão, cultura e sensibilidade para respeitar os outros órgãos, sobretudo quando não é inferior à sua a legitimidade de que estão investidos.
O PR que entregou um prefácio medíocre de um livro de discursos, ao Expresso desta semana, é um político ressentido e vingativo que, desesperado com a oposição dos seus correligionários, se prepara para os liderar. Quando a razão lhe assiste, como no caso do Estatuto dos Açores, perde-a pela forma desastrada que usa. Quando lhe falta a razão, como no diploma da comunicação social, serve-se da forma para errar a decisão.
Podia ter aguardado o fim do mandato, tentar acabá-lo com dignidade, não embarcar na luta partidária e lembrar-se da experiência de Eanes com o PRD.
Adenda - O prefácio está publicado no Expresso (sítio indisponível).
Comentários
Ou era também um “duas-caras” como o presente Presidente? Duas caras: uma representando os católicos e a outra representando os ateus?
Se um governo não respeitar o povo que o elegeu, então ele perde toda a legitimidade. É o que se passa com o actual governo.
E graças a Deus não temos a obrigação de gostar dos nossos governantes.
há muito tempo
que não via analise tão profunda exaustiva
do que se está passando...
escrevi algo complementar
mais modesto
em comentario no aspirina
que transcrevi também no Azeireiro creio
Abraço e obrigado!!!
FPtrad
Não estou e nunca estive ligada a partidos mas sempre apoiei a esquerda e é de esquerda que me considero. Não me lembro de ver nos últimos tempos um governo meter a mão na massa como este tem feito. Nenhum governo é perfeito e como de costume o futuro nos mostrará os resultados bons e maus. Considero que fechar centros de saúde que não cumprem os seus objectivos, maternidades que não fazem um parto por dia, pôr ordem nas escolas, aproximar o sector público do privado, não é não respeitar o povo que o elegeu, é precisamente o contrário. E qualquer governante consciente sabe que, ao pôr em prática medidas impopulares, perde votos.
Temos dois grandes travões à eficácia das medidas - nós próprios e a falta de fiscalização. Muitas medidas perdem a eficácia porque ninguém fiscaliza a sua aplicação.
O próximo governo nada fará porque a triste oposição não está interessada no país mas apenas nos seus próprios umbigos e pelas mais variadas razões. Apesar do lodo que o poder arrasta, considero positiva, na generalidade, a actuação deste governo.
Eu também sou e sempre fui de esquerda, mas cada vez suporto menos este governo... Há demasiadas coisas que me chocam (como o que se passa nas escolas, por exemplo) para eu poder gostar do governo do Sócrates.
Guterres é um católico, como toda a gente sabe, mas foi um político laico salvo na lamentável posição em relação à despenalização do aborto.
Como não avalio os governantes pela religião que praticam, reconheço nele o maior vulto moral e intelectual desta segunda república.
voçe chega a ser comico,entao a parte em que refere o sampaio como estadista é hilariante.
voçe acha que nenhum governo de minoria vai chegar ao final da legislatura,pois esse presidente chorão a quem se referiu acabou com um governo de maioria e nao me venha com conversas de trapalhadas porque com este de trapalhadas estamos nos conversados
E parece que acabou bem, já que nas eleições que se lhe seguiram o voto popular confirmou a decisão do então PR. O resultado das eleições poderia ter sido outro e nesse caso, sim, haveria razão para culpar o PR. É uma chatice esta coisa dos votos, não é?