Momento Zen de segunda 26_12_2011
João César das Neves (JCN), entendido em coisas da fé e conhecedor do Paraíso ensina na habitual homilia do DN, «O burro do Presépio», que no céu também há cavalariças, deixando perplexos os ateus que não acreditam na existência do Céu e que o julgavam uma invenção exclusiva para almas pias. Um ateu não acreditaria que JCN tivesse lá reservada a uma estrebaria, se não fosse ele próprio a confessá-lo no DN.
Afinal o Céu é um conglomerado de condomínios. Segundo JCN, nos palácios do Céu moram os grandes apóstolos, os mártires heróicos, pastores atentos, doutores sublimes, virgens puras, santos incomparáveis. Para ele está reservada uma cocheira o que, para si, é um privilégio porque – segundo afirma – lá até as cocheiras são maravilhosas.
Algumas expressões pias, como «virgens puras», parecem redundantes aos ímpios, mas o que mais admira é que o Paraíso, com tantas estrebarias, seja uma reserva de solípedes porque, segundo o exegeta das coisas celestes, no Céu os currais são Presépio.
JCN adverte os leitores de que no Céu não entra qualquer asno, entram apenas aqueles que carregam aquilo que tiver de ser, sem discutir, sem escolher, sem resmungar, sem pedir descanso, contentando-se com a ração, enfim, asnos subservientes e acéfalos.
No fundo parece que as cocheiras são exclusivas dos crentes que imitem o burro do Presépio e transportem uma mulher grávida que tenha dentro de si o Salvador. Apesar de não faltarem burros na Terra, é de crer que escasseiem virgens grávidas que possam ser transportadas por asnos ansiosos de uma estrebaria no Paraíso.
O Céu pode ter lugares para muitos burros mas é de crer que, com excepção da reserva para JCN, as estrebarias continuarão vazias e deus terá de contentar-se com os grandes apóstolos, os mártires heróicos, pastores atentos, doutores sublimes, virgens puras, e santos incomparáveis. Talvez por isso, à falta de solípedes, o Papa se atarefe na criação de santos e beatos para fazerem companhia ao patrão.
E, quanto a JCN, arrisca-se a não ter com quem relinchar nem com quem trocar amáveis coices na eternidade que a religião dele reserva à fauna da sua santa Igreja.
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