Perdoar é generoso, esquecer é perigoso


Adriano Moreira é o académico ilustre que ainda hoje, aos 90 anos, mantém invejável capacidade intelectual e argúcia política. Talvez a idade e as circunstâncias tenham corrigido o ex-secretário de Estado e ministro do Ultramar e feito dele um conservador resignado com a democracia e o estado de Direito. Aparentemente, assim aconteceu.

O que não pode esquecer-se é a conivência com o governo salazarista, o comportamento como responsável directo pela condução da guerra colonial e pela barbaridade com que o exército de ocupação respondeu à crueza de actos terroristas, injustos e gratuitos, com que os nacionalistas angolanos iniciaram a guerra de libertação em Angola.

Os que louvam Adriano Moreira como democrata esquecem que, tendo sido presidente do CDS e continuado a ser seu militante, não repudiou o Partido quando foi expulso da Internacional Democrata Cristã por ser anti-europeísta e duvidosamente democrático.

Adriano Moreira foi, é e será sempre um reaccionário para quem a democracia é um regime onde os adversários nunca são prejudicados nem perseguidos e, pelo contrário, podem ocupar lugares de destaque, ser condecorados e atingir o cume de uma carreira académica e os mais altos cargos do Estado (deputado, vice-presidente da AR).

Por tudo isto fiquei perplexo com o doutoramento honoris causa de Adriano Moreira pela Universidade do Mindelo, o primeiro em dez anos de ensino superior em Cabo Verde. Não foi uma distinção sensata nem honra a ilha que em 8 de Julho de 1832 recebeu os «bravos do Mindelo» que se bateram contra os miguelistas nas Guerras Liberais.

O país onde o salazarismo criou o Campo de Concentração do Tarrafal que, de 29 de Outubro de 1936 até 1954, foi local de desterro, tortura e morte para os adversários políticos, faltou ao respeito aos seus mortos na luta pela independência do PAIGC.

A antiga colónia portuguesa homenageou o cúmplice da ditadura, alto responsável do colonialismo e, ironicamente, o ministro fascista que reactivou o Campo do Tarrafal em 1961, designado Campo de Trabalho do Chão Bom, para receber prisioneiros oriundos das colónias portuguesas.

Adriano Moreira pode ser perdoado mas não deve ser esquecido o seu passado.

Ponte Europa / Sorumbático

Comentários

Pois ele era da idade do mê tio logo só deve ter 89 deve fazer anos 90 lá para o fim do mundo em 2012

ele foi um académico com carreira na ONU (talvez por falar um inglês lamacento e os restantes só franciu e devido ao seu estudo dos assuntos e leis coloniais ascendeu nos anos 60 à ante-câmara do poder salazarista

daí a dizê-lo salazarista indefectível é dizer o mesmo de Humberto Delgado ou de Henrique Galvão
pessoal com percurso similar e com muito mais proximidade a Salazar que preferia gente mais madura
(ou seja mais da sua idade )

esquecer que teve algumas veleidades de inverter o rumo que as coisas tomaram e de alinhar com a ala dos moderados do regime
tamém é danoso para a má mória cu lectivizada
Pi-Erre disse…
"O que não pode esquecer-se é a conivência com o governo salazarista, o comportamento como responsável directo pela condução da guerra colonial e pela barbaridade com que o exército de ocupação respondeu à crueza de actos terroristas, injustos e gratuitos, com que os nacionalistas angolanos iniciaram a guerra de libertação em Angola."
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Isto diz tudo sobre a consciência "moral" do autor do post. Para ele dirijo a minha expressão mais suave: BARDAMERDA !

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