Os pescadores de Caxinas e a Senhora de Fátima


A população de Caxinas guarda memórias amargas de vidas perdidas nas ondas do mar. É uma terra de viúvas e mães chorosas, cuja sobrevivência depende da coragem dos homens que se fazem ao mar em frágeis embarcações. Não há famílias sem parentes e amigos perdidos na faina.

Aos 83 pescadores afogados nos últimos 30 anos, por incúria de governantes, escassez de meios de protecção e fúrias súbitas do mar, quis o acaso que resistissem ao frio, ao pânico e à fome, seis pescadores que viram afundar-se o pesqueiro em que seguiam da balsa salva-vidas onde se abrigaram.

Não é vulgar resistir 60 horas sem comida, com temperaturas baixas, apenas com água. Raramente sobrevivem nestas condições. Desta vez houve lágrimas de alegria por um acaso feliz, para compensar o desespero que as famílias e amigos viveram.

Foi exagerado o circo mediático montado pela comunicação social e o oportunismo da Igreja católica que estimulou a fé na Senhora de Fátima, especialista na salvação das almas sem méritos conhecidos no salvamento de vidas. Até o bispo se dispôs a ir rezar uma missa de acção de graças pelos seis sobreviventes.

Santa hipocrisia! Que aproveitamento da dor e angústia das famílias que o medo fez devotas! O bispo vai abanar a mitra e exibir o báculo enquanto aproveita as genuflexões para dar a beijar o anelão. Ao contrário dos abutres aparece para festejar a sobrevivência dos seis pescadores. Se tivessem morrido, lá estava o padre Domingos Araújo que já fez o funeral de mais de 80 pescadores mortos pelo mar nos últimos 34 anos.

Há quem viva das tragédias humanas. A Igreja e os cangalheiros estão na primeira linha.

Comentários

Se Deus existisse e se preocupasse com o destino daqueles pescadores não teria deixado afundar o barco.

E os outros 83 pescadores que morreram nos últimos 30 anos? Será que foi por obra do Diabo? Então teríamos a seguinte contabilidade, pouco abonatória da alegada omnipotência de Deus: Diabo-83, Deus-6!
Ricardo Campos disse…
o diabo afunda e a senhora de fatima salva... ó gentes de pouca fé.

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