Humor e ódio em tempos de medo e incerteza

São singulares as condições que ora vivemos, tempos intensos, onde emergem o pior e o melhor de cada um de nós, abnegados e cobardes, sonhadores e deprimidos, altruístas e egoístas.

Quando o medo se entranha surgem a generosidade e a pusilanimidade, com o prato da balança a pender para a última.

O humor, mesmo o negro, é catártico, alivia as tensões, faz bem ao fígado e ginastica os músculos da face. O ódio é um subproduto do medo, insegurança, baixa estima, inveja e ressentimento.

Arrepia ler o que se diz nas redes sociais, ver néscios a exultar com o número de mortes do Brasil e EUA, países de gritantes desigualdades, onde a pobreza toca largas camadas da população e são ignaros os governantes. É tão chocante o júbilo com a infeção de Boris Johnson, como o alheamento da tragédia dos refugiados que morrem às portas da Europa.

Há, no primarismo das emoções, manifestações de ódio canalizadas para adversários ou atores políticos que as teorias da conspiração elegeram como vilões de uma conspiração que os responsabiliza pela criação ou propagação do vírus. É um ódio irracional, que dá a medida da torpeza que circula pelos esgotos das redes sociais e caixas de comentários dos órgãos de informação.

São tempos de cólera, onde se perde a honra e medra o primarismo, onde os instintos se sobrepõem à racionalidade e a dignidade se dissolve na amoralidade.

Nesta catástrofe natural, cujo fim só a descoberta da vacina pode erradicar, recuaremos muitas décadas, com destruição igual ou superior à da última guerra e cidades intactas.
Só a dignidade e o bem-estar se desmoronam, implodidos pela destruição económica e o medo e incerteza de um futuro sombrio.

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