O leão, o coxo e o coronavírus

Todos conhecem histórias da evasão do leão, da jaula do circo, e as reações de quem assistia ao espetáculo, desde a do espetador sentado no meio de duas tábuas soltas e que deixou levantar os outros, antes de ser entalado por uma parte anatómica sensível, e, na pungente castração traumática, clamava a gemer, não fujam…, o bicho é manso…

Ou a do coxo, que viu o leão a forçar as grades para se evadir, com a multidão em fuga, antes da solidariedade com que, de longe, já sem perigo, gritava: o coxo…, o coxo…, e ele a mancar, a arrastar-se penosamente e a gritar, o coxo…, o coxo…, o diabo!, o leão é que escolhe…

Lembrei-me desta segunda história durante os noticiários terroristas com que procuram alarmar-me os canais televisivos que andam desolados com o baixo número de vítimas e que exultaram com um compatriota infetado num paquete, nas costas do Japão, a salvar a honra do provincianismo luso e fizeram dele herói nacional, recebido em apoteose, no regresso, por ser a primeira vítima da COVID- 19. Um feito histórico!

Ainda agora, face ao entusiasmo com que anunciam a nova marca diária, numa espécie de competição para chegar à meta, e ao gáudio com que referem as percentagens mais elevadas de letalidade entre os mais velhos, eu sorrio, do alto dos meus 77 anos…

…os mais velhos, um raio, o coronavírus é que escolhe 😊 😉 

Ponte Europa / Sorumbático

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