Os bancos e a economia
Sei pouco de tudo e ainda menos de macroeconomia. A microeconomia, gestão de bens próprios, fui-a compreendendo empiricamente, mas não faria um voto consciente se não refletisse nas opções que os vários partidos me propõem, incluindo o campo económico.
Aprendi alguma coisa sobre finanças em 1973, por experiência própria. Em março tinha 80 mil escudos disponíveis e, como ia entrar com excelente remuneração, no início de abril, na multinacional onde acabaria a minha vida ativa, decidi converter as economias em ações de empresas cotadas na Bolsa de Lisboa.
Era solteiro, não precisava do dinheiro, e deixei-as ficar. Em fins de agosto, de regresso das férias em Itália e Jugoslávia, fui passar a última semana com os meus pais, e pensei vendê-las. Valiam duzentos e muitos contos, à cotação de 1 de setembro, altura em que regressei ao trabalho. Por esse valor podia ter comprado um T-3 novo em Coimbra. Não o fiz e, nesse mês, a subida do barril do petróleo de US$ 10 para 20 dólares levou ao encerramento da Bolsa e acabei por perder a totalidade das economias.
Conto este episódio, que a direita gosta de atribuir ao 25 de Abril, porque aprendi então que eram voláteis os valores mobiliários, como, aliás, os imobiliários e a própria vida. Serve também para refletir sobre a recente encenação da alegada obrigação de os bancos ajudarem os contribuintes, porque estes já os ajudaram no passado. E a saga continua.
Rui Rio referiu a obrigação e Marcelo coreografou a reunião por videoconferência com banqueiros, isto é, CEOs dos bancos, finda a qual garantiu aos portugueses que estavam empenhados nessa ajuda, promessa que, a ter sido feita, não podia ser cumprida.
Não entendo como os bancos, penalizados nos seus ativos financeiros, podem estar em condições de injetar dinheiro na economia. Aliás, por muito que custe aceitar, são os banqueiros quem mais dinheiro perde nas atuais circunstâncias. Basta lembrar a falência do banco Lehman Brothers, a crise financeira que provocou e a tragédia que se seguiu nos países de economias mais débeis.
Apesar de alguns economistas afirmarem o contrário, tenho por adquirido que a falência de um banco arrasta outros, efeito dominó, e atrai vampiros à espera dos cadáveres. No sistema capitalista, único que existe, os bancos são os órgãos do aparelho circulatório da economia e não podem falir. Quanto à propriedade, é outro assunto. De Gaulle estatizou alguns e, mais tarde, lamentou não os ter nacionalizado a todos.
A experiência ensinou-me que as ações de bancos, construtoras, seguradoras, empresas de comunicações ou outras, não valiam um centavo após a falência.
Estou convicto de que uma Europa mais pobre não pode ressarcir os prejuízos, mesmo os países mais ricos. Prevejo que a desvalorização da moeda, a subida de impostos ou a redução efetiva de vencimentos e pensões seja inevitável. Só assim se compreendem as resistências de alguns países ricos à generosa proposta de Merkel e Macron.
Se não tivéssemos o euro, como moeda, há muito estariam depreciadas as remunerações dos trabalhadores e, sobretudo, as pensões. Lembro-me da excelente pensão do meu pai (1971) e da modéstia a que estava reduzida quando faleceu (1997).
E, se não integrássemos a União Europeia, era provável termos já perdido a democracia.
Aprendi alguma coisa sobre finanças em 1973, por experiência própria. Em março tinha 80 mil escudos disponíveis e, como ia entrar com excelente remuneração, no início de abril, na multinacional onde acabaria a minha vida ativa, decidi converter as economias em ações de empresas cotadas na Bolsa de Lisboa.
Era solteiro, não precisava do dinheiro, e deixei-as ficar. Em fins de agosto, de regresso das férias em Itália e Jugoslávia, fui passar a última semana com os meus pais, e pensei vendê-las. Valiam duzentos e muitos contos, à cotação de 1 de setembro, altura em que regressei ao trabalho. Por esse valor podia ter comprado um T-3 novo em Coimbra. Não o fiz e, nesse mês, a subida do barril do petróleo de US$ 10 para 20 dólares levou ao encerramento da Bolsa e acabei por perder a totalidade das economias.
Conto este episódio, que a direita gosta de atribuir ao 25 de Abril, porque aprendi então que eram voláteis os valores mobiliários, como, aliás, os imobiliários e a própria vida. Serve também para refletir sobre a recente encenação da alegada obrigação de os bancos ajudarem os contribuintes, porque estes já os ajudaram no passado. E a saga continua.
Rui Rio referiu a obrigação e Marcelo coreografou a reunião por videoconferência com banqueiros, isto é, CEOs dos bancos, finda a qual garantiu aos portugueses que estavam empenhados nessa ajuda, promessa que, a ter sido feita, não podia ser cumprida.
Não entendo como os bancos, penalizados nos seus ativos financeiros, podem estar em condições de injetar dinheiro na economia. Aliás, por muito que custe aceitar, são os banqueiros quem mais dinheiro perde nas atuais circunstâncias. Basta lembrar a falência do banco Lehman Brothers, a crise financeira que provocou e a tragédia que se seguiu nos países de economias mais débeis.
Apesar de alguns economistas afirmarem o contrário, tenho por adquirido que a falência de um banco arrasta outros, efeito dominó, e atrai vampiros à espera dos cadáveres. No sistema capitalista, único que existe, os bancos são os órgãos do aparelho circulatório da economia e não podem falir. Quanto à propriedade, é outro assunto. De Gaulle estatizou alguns e, mais tarde, lamentou não os ter nacionalizado a todos.
A experiência ensinou-me que as ações de bancos, construtoras, seguradoras, empresas de comunicações ou outras, não valiam um centavo após a falência.
Estou convicto de que uma Europa mais pobre não pode ressarcir os prejuízos, mesmo os países mais ricos. Prevejo que a desvalorização da moeda, a subida de impostos ou a redução efetiva de vencimentos e pensões seja inevitável. Só assim se compreendem as resistências de alguns países ricos à generosa proposta de Merkel e Macron.
Se não tivéssemos o euro, como moeda, há muito estariam depreciadas as remunerações dos trabalhadores e, sobretudo, as pensões. Lembro-me da excelente pensão do meu pai (1971) e da modéstia a que estava reduzida quando faleceu (1997).
E, se não integrássemos a União Europeia, era provável termos já perdido a democracia.
Ponte Europa / Sorumbático
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