Os salazaristas e o neofascismo português

Os meus leitores habituais hão de ter notado que, cada vez que acuso a ditadura fascista, surgem salazaristas a defendê-la. As datas do opróbrio são para eles facadas, os crimes meros acidentes e a guerra colonial a defesa do “nosso ultramar infelizmente perdido”.

Os assassinatos eram danos colaterais na defesa da ordem e dos bons costumes, a tortura um método de investigação e a censura uma forma de preservar a moral.

Não são os nostálgicos que intimidam, tristes sobreviventes da anacrónica ditadura, que agora saltam do armário onde se esconderam. Esses são inofensivos, crocitam, uivam, regougam, eructam e babam-se.

Perigosos são os que herdaram dos progenitores o ódio e a vocação de pides, os que não conheceram as malfeitorias do torcionário de Santa Comba, os neofascistas que nascem agora para repetir como tragédia o que olhávamos já como comédia de humor negro.

Falta-lhes a cultura, mas sobra-lhes entusiasmo a repetir mentiras, a inventar calúnias, a destilar rancor e a vestirem a pele de pessoas sérias contra os políticos que acusam de corruptos, numa generalização que é vulgar em mentes perturbadas e cérebros onde os neurónios escasseiam.

Tal como os vírus, os neofascistas sofreram mutações. Já não vêm de botas, ao som de hinos, de braços estendidos numa coreografia reles, defendem a liberdade de escolha, animam o negacionismo e corroem os alicerces da democracia representativa.

É esta capacidade camaleónica que os torna perigosos e a democracia só tem uma arma para se defender, a pedagogia cívica e a denúncia dos homúnculos que, tal como há um século, anseiam por uma nova e trágica aventura.

Cabe-nos ser vigilantes e não deixarmos sem combate os arautos de velhas ideologias e novas tragédias.

Comentários

joão pedro disse…

Com os comunistas entre os que estão na primeira linha da defesa contra o fascismo!
Será que vou lá encontrar, finalmente, o Jaime Santos ?
Insondáveis são os desígnios do Senhor…

João Pedro

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