Catarina Eufémia – 19 de maio de 1954 – Efeméride_2

Há 66 anos o abrutalhado tenente da GNR, Carrajola, inscreveu o seu nome na memória dos portugueses ao assassinar a tiro uma ceifeira analfabeta, mãe de três filhos, durante uma greve de assalariados rurais, quando resistia à repressão fascista. Dele ficou a raiva e o nojo.

Hoje é dia de recordar, com raiva e nojo, o crime do assassino impune e a coragem da jovem Catarina Eufémia, símbolo da mulher corajosa cujo martírio perdura na memória dos que não esquecem a ditadura salazarista e os alegados brandos costumes.

Quando a hidra fascista renasce sob vários disfarces, recordar aquela mãe-coragem de 26 anos, é homenagear as mulheres que lutaram pela dignidade e combater o esquecimento.

Ser mulher, pobre, analfabeta e assalariada rural foi o ónus de milhares de portuguesas que sofreram a ditadura. Catarina morreu a combater com a intuição de que é preferível morrer lutando do que desistir e sobreviver na escravidão.

***

RETRATO DE CATARINA EUFÉMIA

Da medonha saudade da medusa
que medeia entre nós e o passado
dessa palavra polvo da recusa
de um povo desgraçado.

Da palavra saudade a mais bonita
a mais prenha de pranto a mais novelo
da língua portuguesa fiz a fita encarnada
que ponho no cabelo.

Trança de trigo roxo
Catarina morrendo alpendurada
do alto de uma foice.
Soror Saudade Viva assassinada
pelas balas do sol
na culatra da noite.

Meu amor. Minha espiga. Meu herói
Meu homem. Meu rapaz. Minha mulher
de corpo inteiro como ninguém foi
de pedra e alma como ninguém quer.

(José Carlos Ary dos Santos)

Comentários

joão pedro disse…

Obrigado, Carlos, por ter trazido a Catarina Eufémia para este seu espaço.


João Pedro

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