As sondagens e a guerrilha eleitoral

As sondagens têm valor e constituem uma indicação preciosa para tomada de decisões. Não há só estudos de opinião sobre intenções de voto, mas são as sondagens eleitorais as que mais perturbam, exaltam os ânimos e maior perplexidade causam nos eleitores.

A perversão que pode existir é nas perguntas, não nas respostas ou nas tendências que apontam. Há muitas sondagens encomendadas para servirem de base a manipulações e é a essa perfídia que a opinião pública deve estar atenta.

Nas primeiras sondagens depois da dissolução da AR, nota-se uma excessiva vontade de preparar a propaganda da direita e a urgência de esmagar Rui Rio e obrigar os militantes do PSD a substituí-lo por Paulo Rangel, por mais difícil que seja mostrar vantagens do último, e não apenas a sua maior permeabilidade aos interesses de grupos internos.

Nesta legislatura, ao chumbarem o OE-2022, logo na generalidade, penso que o PCP e o BE prejudicaram toda a esquerda, especialmente, a si próprios. Não convenceram que o PS, o único partido que votou a favor, queria o chumbo, e que o PCP e o BE, no futuro próximo, estão disponíveis para ceder ao PS e manter a estabilidade do Governo.

A máquina do PSD de Relvas, Marco António e caciques tradicionais conta agora com a caução de Marcelo, Cavaco e Passos Coelho, este saído dessa incubadora de nulidades. Por ora, explora ódios internos contra o líder e o apoio de Marcelo a Rangel, com medo de que o dificilmente controlável Rui Rio faça aos barões do PSD o que fez ao Sr. Pinto da Costa, no Porto, risco inexistente para os barões com o dócil Paulo Rangel.

Depois de levar Rangel à liderança, urge criar-lhe a auréola da competência, louvar-lhe a linguagem trauliteira e criar a ilusão de um salvador. É aí que vão surgir aproximações nas sondagens entre o PS e o PSD, com o primeiro a descer e o segundo a subir, com a bipolarização ansiada a aprofundar, até chegar, é esse o sonho de fazedores de opinião, a uma diferença que caia nas margens de erro e, se possível, levar Rangel à vitória.

Até lá, contam com o efeito PR na campanha eleitoral, influência que há muito exerce, com os escândalos que hão de surgir, os inventados e os guardados para difamar o PS.

A campanha que aí vem, depois de engordado o partido fascista, será dura, e a verdade é a eterna sacrificada. O maior desejo é evitar a maioria absoluta, salvo se for de direita. A promessa de não haver alianças com o partido fascista é uma farsa que não resistiria à primeira oportunidade, tal como a persistente atribuição do rótulo de esquerda ao PAN.

Só a ingenuidade de muitos pode enganar todos. Parece que o País já esqueceu quem se coligou nos Açores para levar à liderança do Governo Regional o PSD, cuja pressa era tanta que nem pensou que podia ter prescindido do nefasto e incómodo partido fascista.

Já são poucos os que se lembram de que foi o PS o partido mais votado nos Açores, que o PSD e toda a direita, incluindo a intragável, governam. Os ingénuos que acreditam nas promessas de Paulo Rangel veriam logo a inclusão do líder fascista no Governo, embora a primeira oportunidade fique ainda adiada para futuras eleições.

As próximas eleições são também um teste ao PR e só a maioria de direita lhe seria útil. Uma maioria absoluta reduz-lhe o poder e, sem maioria, a instabilidade governamental exige-lhe que explique ao País a aventura eleitoral em que de motu proprio o precipitou.

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