O (mau) serviço do PR e o momento eleitoral
A obsessiva presença do PR nos média, a irrefreável tentação para interferir na esfera de competência de outros órgãos de soberania e a corte de vassalos que o acompanha e lhe serve de câmara de ressonância, são um obstáculo à reflexão sobre os programas que os partidos apresentam ao país.
A Constituição define com clareza a esfera de competência de
cada órgão de soberania, mas a iliteracia política e a desmesurada exposição
mediática do PR dão a ilusão de que a democracia, claramente parlamentar, seja de
natureza presidencial.
A perversão começou com o irado salazarista, Cavaco Silva, a
querer perpetuar Passos Coelho e Paulo Portas no Governo, contra a vontade da
AR, e manteve-se até ao último dia no Palácio de Belém, a predizer raios e
coriscos contra um governo que integrava os partidos que a ditadura fascista se
esforçou a aniquilar.
Ao salazarista inculto, a CRP parecia-lhe apenas um
obstáculo que o irritava, tal como o 1.º de Dezembro e o 5 de Outubro lhe
pareciam datas menores da identidade nacional. Ao cidadão urbano, Marcelo
Rebelo de Sousa, não é desculpável a propensão narcísica que o leva a ser um
fator de perturbação política.
O apoio canhestro a Paulo Rangel e a desconsideração ao
líder do PSD, Rui Rio, parece uma forma de se ressarcir das humilhações que
marginais pouco recomendáveis já lhe infligiram, desde Bolsonaro, a Alberto
João Jardim e até Cavaco Silva, agora do mesmo lado da direita mais musculada.
O país não pode continuar aturdido com o ruído mediático
vindo de Belém e da central de intoxicação da Direita. É altura de perguntar ao
PR que espetáculo foi aquele sobre a substituição do CEMGA, com o seu
conhecimento e anuência, para desestabilizar o Governo, indiferente aos danos
que está a provocar à imagem de um prestigiado militar e ao adiamento da
concretização de uma decisão acordada.
É surpreendente que venha dizer que ‘admite não exigir
acordos, se ninguém conseguir maioria nas eleições de janeiro’, sem ninguém lhe
perguntar qual a legitimidade para tal e quais as garantias de que os partidos
estariam dispostos a aceitar exigências ilegítimas.
Quando o PR ultrapassa de forma exuberante as funções,
abusando da simpatia de que ainda goza e, sobretudo, da cumplicidade dos media,
é altura de contrariar a irrefreável tendência para condicionar a opinião
pública e tentar colocar no poder pessoas que lhe permitam usufruir os poderes
de que a Constituição o priva.
O País não pode consentir que o novo marcelismo seja a
evolução na continuidade do cavaquismo, agora numa versão urbana e de rosto
humano.
Conversas em família já temos todos os dias, por junto e a prestações.
Comentários
Foi o caso do 'momento verdadeiramente singular' relatado pela TVI, de que falo em https://mosaicosemportugues.blogspot.com/2021/10/um-momento-verdadeiramente-singular.html, que o convido a visitar.
Bom Domingo!
O PR mostra particular satisfação com a exposição mediática e não se escusa a dar opiniões e intrometer-se em assuntos que são da esfera exclusiva da competência da AR ou do Governo.