PSD – Rui Rio, Paulo Rangel e a tralha cavaquista

Não há divergências ideológicas enormes entre os dois candidatos à liderança do PSD, embora seja fácil identificar o que se situa na direita mais radical e truculenta.

Relvas, Marco António e Luís Filipe Meneses não se detêm em minúcias éticas, têm os negócios e a febre do mando, o aparelho partidário, a conivência de velhos salazaristas, e o cadastro a servir de currículo. Fizeram de Passos Coelho PM e da Tecnoforma uma empresa lucrativa, para o administrador e o benfeitor. Querem repetir o êxito.

O que distingue Rui Rio de Paulo Rangel é a seriedade e a coragem do primeiro contra a docilidade do segundo, dentro do partido, e a violência para adversários, fora. No fundo, é uma questão de carácter, que nem o PR, ansioso por mandar no PSD, tolera a Rui Rio.

Paulo Rangel nunca seria capaz de enfrentar um líder desportivo de primeira grandeza, manter-se longe de intrigas internas, de favores dos fortes e do aconchego dos barões do partido. Se Rui Rio tivesse qualquer mancha no currículo, há muito que os apoiantes de Rangel a espalhariam nos media, que dominam. A Rangel, que vê Passos Coelho como inspiração para o país e, certamente, para si próprio, basta-lhe um notário em Belém.   

Em questões de consciência Rui Rio já deu provas de votar segundo a sua, ao arrepio de interesses partidários e dos poderes subterrâneos que as policiam. Pelo contrário, Rangel já provou ser dissimulado por conveniência, aguardando tempos favoráveis para invocar o que tinha por desvantagem.

Não parece que Rangel seja pior para a esquerda do que Rio, o que é, decerto, é mais perigoso para o País, ao serviço de interesses pessoais que o trouxeram de Bruxelas, onde estabelecera a sua zona de conforto, graças ao aval de Rui Rio.

Não há dúvidas da derrota de Rui Rio, da radicalização do PSD e da demagogia que vai campear com membros de profissões mediáticas a criarem um ruido infernal contra as decisões do atual Governo. Aliás, as perturbações sociais, os ruídos corporativos e as intrigas mediáticas já andam aí ao serviço de qualquer Rangel que troque a consciência social pelos privilégios das classes mais favorecidas.

É hábito, aliás, ser traído pelos que escolhe. Rangel foi a sua escolha para o Parlamento Europeu, Rui Moreira, o do caso Selminho, foi a sua opção para o substituir na Câmara do Porto, e sabe-se como passou a odiá-lo, e, finalmente, Carlos Moedas, que escolheu para edil de Lisboa, acaba de declarar a “amizade muito grande com Paulo Rangel” e a declinar a escolha de Rui Rio, “a escolha foi de Rio, mas também foi minha”. Até a IL apregoa que o entendimento seria “mais simples” com Rangel, mais neoliberal.

No futuro, talvez as vacinas não comecem pelos mais velhos e por quem não pode pagá-las, porque os que hoje exigem melhor Saúde são os que votaram contra o SNS.

Por ora basta impedir uma maioria estável para esta legislatura. Nas próximas eleições já conseguirão a maioria de direita com o partido fascista que juraram agora ostracizar.

Quem viver, verá! É a tralha cavaquista que regressa.

Comentários

Jaime Santos disse…
Rui Rio provavelmente perderá as eleições internas porque se deixou embrulhar nas suas contradições. O candidato do banho de ética acumulou casos entre os seus lugares-tenente e ele que queria recentrar o PSD, abençoou uma coligação com o Chega! nos Açores (ou não teve mão no Partido para a impedir) e uma candidatura autárquica na Amadora de uma candidata que se tivesse sido mais bem sucedida, teria feito dele um émulo de Passos Coelho quando escolheu um certo candidato para a câmara de Loures...

Finalmente, ao procurar adiar as diretas, mostrou medo de quem não deveria meter medo a ninguém e acabou desautorizado pelo seu Partido. O seu discurso de campanha a justificar o injustificável acaba a expô-lo ao ridículo. Sairá da política pela esquerda baixa e enterrará definitivamente o sonho de um Pacheco Pereira do regresso do PSD como Partido charneira do sistema, algo que foi em tempos idos e aúreos.

Rangel tem uma grande vantagem para a Esquerda. A campanha irá expor o seu estilo gongórico, arrogante, pedante e chato (mas ainda assim em humor dá 10 a zero a Rui Rio), assim como a postura trauliteira de quem perde a estribeiras quando não gosta do que ouve...

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