Marcelo e a marcação das eleições. A ver, vamos…
O PR, com o inédito e arriscado anúncio prévio da posição que tomaria, caso OE-2022 não fosse aprovado, acicatou as disputas entre os partidos que o negociavam, e causou instabilidade no regular funcionamento das instituições, que lhe cabe preservar.
Não está em causa a legitimidade do PR para dissolver a AR,
embora fossem possíveis outras alternativas constitucionais, mas a intromissão
na esfera de competências da AR e o ruído que se habituou a produzir em todas
as situações não favorecem o respeito que as funções exigem, e comprometeram-no
na instabilidade que ora se vive.
Nas presenças televisivas diárias só falta comentar o
boletim meteorológico, um excesso que afasta notícias relevantes do País e do
Mundo, como se a política portuguesa girasse em torno do órgão de soberania de
que se espera maior sobriedade.
Na atual crise política, onde não pode enjeitar as suas
responsabilidades, o PR procedeu pessimamente, e agiu como líder partidário,
responsável por dificuldades acrescidas em futuras negociações do OE e na estabilidade
política, se, como é previsível, se mantiver a correlação de forças partidárias
na AR.
Depois de receber Rangel na véspera da votação do OE, afrontando
o líder do PSD, Rui Rio, num sinal inequívoco da preferência pessoal para a
liderança do PSD, e da alegada discussão da data das eleições com Rangel, ficou
mais suspeita a independência do PR.
Depois de referir a urgência das eleições que precipitou, só
lhe falta protelar a data que a generalidade dos partidos apontou como
desejável, 16 de janeiro. Seria um péssimo sinal, ao contrário do que afirmou,
ser indiferente aos problemas internos dos partidos, optar pela pretensão de
Paulo Rangel, 30 de janeiro.
Depois de Marques Mendes ter, no último domingo, defendido os
dias 30 de janeiro ou 6 de fevereiro, na SIC, aumentaria a suspeita de que o
Conselheiro de Estado é o porta-voz de Marcelo e intérprete dos seus desejos.
A CRP obriga o PR a reunir o Conselho de Estado para
dissolver a AR, como ameaçou prematuramente e está previsto, mas não fica sujeito
às posições dos Conselheiros. Por isso, assume o ónus da instabilidade a que
ficará ligado.
Marcelo, no passado, representou sempre a ala direita do
PSD, na rejeição do SNS, na promoção da liderança de Cavaco, na Figueira da
Foz, contra João Salgueiro, na recusa da despenalização da IVG e na preparação
da candidatura de Cavaco a PR na vivenda de Ricardo Espírito Santo Salgado.
Espera-se agora do PR a isenção a que o militante partidário
não era obrigado. Amanhã saber-se-á se respeita a urgência eleitoral e a
independência que alegou em relação às lutas internas dos partidos ou se, pelo
contrário, aproveita uma previsível carta de 100 assinaturas para dar o dito
por não dito.
Duas semanas de diferença, 16 ou 30 de janeiro, servirão para avaliar a imparcialidade que garantiu.
Apostila – As reuniões do Conselho de Estado, onde só dois Conselheiros ousam violar o sigilo, são secretas e, desta vez, já transpirou o que interessa à direita mais à direita.
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