A embaixadora Ana Gomes e a perseguição aos políticos
A extrema-direita usou sempre a corrupção como arma política contra as democracias e os democratas, certa de que a corrupção não é escrutinada nos regimes que lhe servem de referência, onde a censura se exerce.
O inevitável “I” é um de muitos papéis impressos onde se
formatam os adversários das democracias liberais que estão sob assédio de
extremistas políticos. Os esgotos hão de correr para algum lado e cada jornal
terá os leitores que merece.
A denúncia do património da embaixadora Ana Gomes, cuja licitude
jamais é posta em causa, insinua que a referida cidadã foge aos impostos, por
ter um contrato-promessa de venda de um imóvel por valor que a obrigaria ao
pagamento de maior IMI, acrescido do adicional que tributa imóveis de valor superior
a 500 mil €€ e, mais penalizador, quando ultrapassa 1 milhão de euros. É mentirosa
e ignóbil a insinuação.
A venda do imóvel referido no contrato-promessa é penalizadora
para a proprietária em termos de mais-valias e não deve haver em Portugal um único
contribuinte que requeira à autoridade tributária a avaliação sucessiva de
imóveis ao sabor das flutuações do mercado. Nem o pedido seria exequível.
Então por que motivo uma não-notícia se converte em título
de caixa-alta e se menciona o valor de outro imóvel, que possivelmente habita,
para devassa da vida privada de uma mulher que enveredou pela política? O ‘jornal’
cita um alegado jurista que diz ser uma questão ética. Que ética? A da calúnia
e da desinformação gratuita?
Que se combatam as ideias que defende, neste caso de uma política
que se situa na ala direita do PS, é o ónus que, em democracia, têm de suportar
os que enveredam por uma exposição pública na política.
Que se devasse a vida privada de quem quer que seja, onde
não há a menor sombra de ilegalidade, é a atitude cobarde de um jornalismo de
sargeta que desagua na leitura de pessoas rudimentarmente informadas onde a
inveja e o escândalo alimentam vidas infelizes.
Há, de facto, um escândalo, comum a embaixadores e magistrados
judiciais, que atingem remuneração superior à de qualquer membro do Governo,
incluindo a do PM, e que são os únicos funcionários do Estado que mantêm na
reforma o mesmo vencimento dos colegas no ativo, benefício que não usufrui
qualquer outro trabalhador e para o qual não descontaram durante a vida ativa. Mas
disso, não quer saber o escriba que se julga jornalista.
Lê-se o artigo, alertado por pessoas que o leram na diagonal
e que julgavam ter sentado a embaixadora no pelourinho da opinião pública por
indignidade. A afinal, era apenas a opinião publicada por quem tem da ética e
do jornalismo uma ideia distante do que são.
A defesa de Ana Gomes é, neste caso, um dever de todos os que, em qualquer quadrante democrático, não se resignam a assistir à calúnia, insídia e difamação dos políticos para fragilizar as democracias, únicos regimes que permitem, sob a capa de direito à opinião, bolçar alarvidades execráveis como a que ora denunciei.
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