Assim vai a Europa… – Alguns comentários sobre a situação presente
Enquanto a maior ditadura do mundo, com 1.400 milhões de habitantes, ganha a guerra na Ucrânia, limitando-se a assistir, a Europa recebe o imperador Biden, que combaterá ao lado de Zelensky até ao último europeu, promovendo a venda de armas do complexo militar-industrial dos EUA e valorizando o gás de xisto e os cereais dos EUA.
Nem sequer os jornalistas lhe censuram a falta de autoridade
moral para usar linguagem de almocreve e acicatar a guerra na Europa,
destruindo as instituições que genuinamente se batem pela paz, nomeadamente a
ONU e o Vaticano, provocando a desorientação dos países e a desordem das
consciências, e deixando a fatura para os europeus.
O pensamento único vai regressando à Europa, colocada em
estado de estupor, perante a violência da guerra ucraniana, sem estratégia
própria, a navegar ao sabor dos interesses geoestratégicos alheios. Putin, que
apoiou a extrema-direita europeia, conseguiu destruir a Ucrânia e Rússia, a
última à espera de se tornar uma nova Jugoslávia onde o fascismo islâmico se
prepara para a desintegrar e criar novos estados fantoches apoiados pelos
responsáveis da sua desintegração.
Dizer que nenhuma potência gosta de que lhe ponham mísseis
na fronteira, devia ser um truísmo tautologicamente demonstrado, e passou a ser
a arma ao serviço do pensamento único, sob meaça de ser um argumento a favor do
czar Putin.
A Paz é um mero pretexto retórico para a eliminação do
adversário escolhido pela Nato, e o presidente da Ucrânia foi promovido a herói
das democracias liberais, mesmo depois de ter proibido os partidos da oposição.
O histerismo com que se veiculam as posições de Zelensky chega ao despautério
de exaltar a sua censura ao governo de Portugal por não ser tão belicista
quanto desejava, à Nato por ter medo da Rússia e à Europa por não dar pretexto
ao holocausto nuclear envolvendo-se diretamente na guerra que procura estender
ao Mundo.
A Europa, herdeira do Renascimento, do Iluminismo e da
Revolução Francesa, arrisca a desintegração. Os nacionalismos já a corroem, o
belicismo dos que não aceitam pagar a fatura da sua imprudência ameaça as
instituições democráticas, a extrema-direita anda aí nas ruas, de Lisboa a
Kiev, e a Polónia e a Hungria, que tinham suspensos os fundos por
desrespeitarem os direitos humanos, já integram o paradigma das futuras
democracias, que constroem muros para impedir a entrada de refugiados de tez
escura, mas abrem as portas a caucasianos.
Quando aceitamos censura à informação e nos resignamos às
verdades únicas, é a ruína dos valores que promovemos, a democracia que pomos
em jogo e o futuro coletivo que hipotecamos.
Ninguém se preocupa já com alterações climáticas, com a fome
que aumenta em África por cada dia que se prolonga a guerra na Europa, com os refugiados
da Síria e do Iémen, com os regimes teocráticos que se multiplicam, com a
Turquia na sua deriva islâmica e antidemocrática a forçar a integração na UE,
enfim, com a subversão dos valores que nos moldaram e tínhamos por
irreversíveis.
O mundo não é a preto e branco e os que resistem são
difamados. Podem calar-nos, mas não nos renderemos.
Comentários
Como diz a Fernanda Câncio, não preciso de achar Zelensky um santo, ou concordar com a expansão da NATO a Leste, ou considerar que os EUA são o sol da Terra para perceber que há um agressor e um agredido e me colocar ao lado deste último.
Bem entendido, não me cabe a mim decidir pelos ucranianos quando lutar ou depor as armas, mas penso que nunca aceitarão a Paz só como um fim em si mesmo, que os leve a ter de abdicar da sua soberania ou sequer de partes significativas do seu território. Falamos de pessoas com alma de cossacos, cabe lembrá-lo.
Falar numa suposta estratégia europeia para uma Paz humilhante para a Ucrânia (chegamos aqui também porque a Ucrânia nunca aceitou e logo nunca implementou os acordos de Minsk) equivale a culpar a vítima, como a uma mulher que, preste a ser violada por um bombista assassino, se pede que não resista a bem da segurança de todos os que se encontram por perto.
Existe um caminho rápido para a Paz, que implica que o agressor se retire, mas não se espere que o Sr. Putin, que hipotecou o seu futuro nesta aventura assassina, o faça... Pelo que provavelmente assistiremos a uma repetição em ponto grande do que se passou em Grozny ou em Aleppo.
Putin comporta-se como um chefe de clã, que perante um adversário que se lhe opõe, opta por uma política de terra queimada ou ação exemplar. A guerra transformou-se numa expedição punitiva contra o povo ucraniano por parte da Rússia.
E isto é o essencial e fornecer armas à Ucrânia para que resista é moralmente aceitável (mesmo se nunca saberemos se é a decisão mais sábia), o que não o é que se negue a este País o direito a defender-se a bem de uma Paz postiça que acabaria quando Putin invadisse o próximo alvo.
Não se queira, pois, culpar os EUA por uma decisão que foi somente de Putin...
Aprecio a sua argumentação e não tenho dúvidas sobre quem é o agressor nem sobre as origens remotas do conflito, com a deportação por Stalin de ucranianos, mas temo, e com razão, que Putin, encurralado, precipite o Mundo na última guerra.
Putin sabe que se perder o poder, existe tanta gente na Rússia e fora dela que ele fez sofrer que provavelmente a sua segurança e a da sua vasta família não poderia ser garantida...
Duvido que alguém tão preocupado como ele com a sua saúde e segurança, a julgar pela distância a que se senta até dos colaboradores mais próximos esteja disposto a acabar os seus dias a sufocar ou a morrer de envenenamento radioativo num bunker após uma guerra nuclear (nós teríamos sorte por comparação).
Ainda acho que isso é menos verdade para a camarilha que o rodeia, e que gostará demasiado dos seus iates, mansões e amantes para se sacrificar pela Santa Rússia. Mas também é verdade que uma escalada tem a sua própria força e lógica que escapa aos homens e à sua racionalidade.
Julgo que é muito difícil senão impossível dar a Putin uma escada para ele descer da árvore para a qual subiu. Vai continuar a massacrar a Ucrânia até ela ser inviável se não a conseguir conquistar, como fez com a Chechénia. A NATO nada pode fazer senão fornecer armas aos ucranianos e esperar que Putin parta os dentes na Ucrânia e seja afastado pelos seus próprios cortesãos num qualquer golpe palaciano.
Lamento o cinismo, mas uma Rússia enfraquecida e caída nos braços da China pelo menos não será capaz de invadir mais ninguém tão cedo. Os ucranianos serão os cordeiros sacrificiais que impedirão Putin de continuar a invadir os vizinhos... Cordeiros que, note-se, lutam como verdadeiros lobos...