Texto de Onofre Varela, Vice-presidente da Associação Ateísta Portuguesa (AAP)

 Crer ou não crer... eis a questão!

O conhecimento das coisas e a sua cabal explicação, sempre constituíram a meta das nossas buscas desde que os nossos ancestrais avós observaram o germinar das sementes, o nascer e o pôr do Sol, o ribombar do trovão e a queda dos raios; culminando, talvez, na enigmática morte que viam materializada na imobilidade e frieza das pessoas com quem partilhavam os dias. 

Perante estas observações procuramos explicar o meio que nos cerca. Havia que perceber o que observávamos... e acabamos por construir enigmas que usávamos como pedras na construção da vontade de saber. Na busca do conhecimento seguimos vários caminhos. Primeiro procurámos-lo nos mitos que construímos à nossa medida (que é sempre a medida da nossa ignorância), de acordo com as nossas necessidades e o nosso entendimento temporal. 

Movidos pelo nosso natural espírito religioso (a Religião é uma atitude intelectual, por isso é criativa) criamos uma mitologia recheada de deuses para todas as horas do dia, todos os dias do ano e todas as circunstâncias da vida. Os deuses mitológicos “explicavam” fenómenos naturais que o nosso cérebro em estreia não descodificava por falta de experiência armazenada no banco de dados... e ainda sem dados! Os mitos transportaram-nos para outro patamar da Religião onde eliminamos deuses supérfluos e criamos apenas um que nos sossegasse a mente reivindicativa de uma divindade que fosse explicativa, protectora e redentora. 

A par da Religião, a Filosofia colocava-nos questões, não respondendo a nenhuma e obrigando-nos a conviver com todas elas. Mas alargava-nos o horizonte onde nem os deuses plurais, nem o deus único, eram suficientes para desatar os nós que encontrávamos no fio do pensamento. As portas que a Filosofia nos abria conduziam-nos a labirintos de palavras, de conceitos e de hipóteses, e iam sempre dar a outras portas e a outros caminhos que nos levavam a outras questões, sem nos apontar o fim da caminhada... porque os caminhos da Filosofia não têm fim!... 

Depois das arcadas filosóficas, entramos na longa estrada da Ciência onde buscamos (e às vezes encontramos) respostas mais certeiras para o nosso desconhecimento. Já deixamos a Mitologia de Atenas e de Roma, mas ainda consumimos os mitos de que as religiões se alimentam. Neste nosso tempo de Ciência, há quem encontre no sentido religioso a “aspirina” que lhe adormece o sofrimento do espírito, mas não lhe cura os males reais, tal como um comprimido Clonix acalma a dor de dentes mas não elimina a cárie que a provoca!… 

Muitos de nós procuramos “milagres” para os males que nos afligem, os quais têm nas suas origens problemas políticos, sociais e económicos. Sendo verdade que compreendo o sentido religioso que acalma as mentes afogadas em religiosidade, também é verdade que são ineficazes os caminhos da fé na busca de curas milagrosas, embora o nosso cérebro tenha poderes insuspeitos, como demonstra a toma de placebos; produtos inócuos que não curam nem agravam problemas de saúde, mas que actuam ao nível da fé neles depositada. 

Entre os caminhos da fé e os da Ciência, cada um que busque o seu próprio caminho... mas não se deve esquecer que nem sempre um substitui o outro!... A Ciência só substitui a fé se as cancelas do Conhecimento estiverem abertas. 

Termino esta crónica com uma frase que me parece dever ser retida por todos aqueles que procuram: “A verdade existe mesmo que tu não acredites. A mentira só existe se tu acreditares”.

Onofre Varela (O autor escreve sem obedecer ao último Acordo Ortográfico)

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