Rússia / Ucrânia - 3 – “Devem ouvir-se igualmente ambas as partes” – (Demóstones, in Oração da Coroa, 330 a.c.)
Não, não estou com os invasores contra os invadidos, no Iraque ou na Ucrânia, onde os mais fracos foram invadidos pelos mais fortes, e lutarei contra o unanimismo vesgo que nos conduziu à censura e ao histerismo belicista.
Os media parecem-se, cada vez mais, com os da ditadura salazarista,
o Sr. Milhazes é o Ferreira da Costa, «Aqui, Luanda, rádio Moscovo não fala verdade»,
e JRS, o Artur Agostinho a anunciar eufórico a voz do dono «Portugueses, temos
o Santa Maria entre nós».
Depois de termos esquecido que «os sinos da velha Goa e as
bombardas de Diu serão sempre portugueses», assistimos à propaganda que esmaga
as vozes discordantes. É o maior ataque à liberdade de expressão depois do derrube
da ditadura fascista.
A invasão da Ucrânia foi uma condenável e condenada tragédia,
e o unanimismo da UE uma desgraça. Do R.U., Boris Johnson comanda a histeria
belicista que fez esquecer as traquinices lúdicas, que o afastariam do cargo. Da
União Europeia, onde sou federalista convicto, ainda agora, esperava a
moderação do não alinhamento acéfalo com interesses do complexo militar-industrial
dos EUA. Esperança baldada.
A Ucrânia nasceu onde a História a condena a fronteiras de
geografia variável, com um governo que, à semelhança de todos os países que sofreram
a violência soviética, Rússia incluída, exacerba o nacionalismo, com o racismo,
homofobia e russofobia a porem em causa os direitos humanos.
Quando a liberdade de expressão é seriamente condicionada, a
verdade única imposta, e a defesa da guerra passa a opção legítima, urge defender
a Paz, e dizer Não.
Defenderei o aprofundamento económico, social e político da
UE, sem o qual se esvazia a democracia, sem trocar a liberdade de expressão e o
pluralismo por qualquer amanhã, por mais musical que se apresente, ou pela
liberdade de esmagar os mais fracos.
Combater o pensamento único é
uma manifestação de cidadania, uma questão de honra, a exigência democrática que
obriga à defesa dos adversários. A ditadura devia ter sido uma vacina eficaz e sem
prazo de validade. E não foi, como se vê.
Fiel aos valores da democracia representativa e ao seu
aprofundamento, recuso modelos caducados e as utopias que inspiram. O século XX
deu-nos as democracias e as tiranias, e produziu os mais obscuros sistemas e as
mais tenebrosas abjeções.
Não avalizo aventuras totalitárias, seja qual for o
pretexto, venham de onde vierem. Num momento de comoção seletiva, ao serviço da
agenda belicista da Nato, gritarei «Sim à Paz, Não à Guerra», sem esquecer o
povo mártir da Ucrânia.
Deixo, para reflexão, a advertência de Mário Soares, em 11 de setembro de 2008.
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