O casamento real e a indigência dos plebeus

Ontem, no apontamento de quem não viu qualquer imagem do circo montado em Mafra, apenas baseado na informação dos jornais, provoquei o azedume de aspirantes a barões e viscondes, extasiados com o desfile de descendentes de servos da gleba que, dentro do fraque, se julgaram condes e marqueses, capazes de se tornarem duques.

Até senhoras que construíram a sua vida à custa do trabalho reclamaram, imaginando-se princesas do conto de fadas que as revistas do coração vendem.

Não sabia que os parasitas que vivem a fantasia de títulos extintos há mais de um século podiam ter ainda tantos apoiantes capazes de trocar a honra pela vassalagem e de levar a sério os atores de uma inofensiva comédia que dignitários da República coreografaram.

Mas se os dignitários exoneraram a honra e a decência pela atenção mediática e aceitam ser pajens, há quem não tenha alma de vassalo e mantenha a lucidez. Pensa-se que o sr. Duarte Pio pode dar o título de duque ao genro, tal como em 2006 tornou cavaleiros 47 elementos que integraram a seleção nacional de futebol, não esquecendo, além dos jogadores, o fotógrafo e o cozinheiro, com a Ordem de Nossa Senhora da Conceição de Vila Viçosa. E eles aceitam! O genro também aceita. 😊 😊😊Foi de morrer a rir!

Há sempre quem acredite em realidade virtual!

É por isso que volto ao assunto, a afastar deste espaço quem é capaz de trocar a honra por uma venera e de vender a alma por um título.

Melhor do que falar do pai da noiva, que a convenceu de que era princesa e duquesa de Coimbra, é divulgar o seu “pensamento”. No dia em que a Câmara de Mafra resolveu, finalmente, atribuir a medalha de ouro de mérito municipal do concelho a José Saramago, após a obstinada recusa de 14 anos do teimoso edil, não encontrou melhores palavras sobre o grande vulto literário: «José Saramago está senil» - disse à SIC.

O Sr. Duarte considera-se descendente do pior ramo dos reis de Portugal. É duvidoso que seja da família de Bragança porque o seu bisavô D. Miguel – o Usurpador – era sem dúvida filho da promíscua D. Carlota Joaquina, mas pouco provável de D. João VI. Só é garantidamente Bourbon, da família que de Espanha o ignorou na boda da filha.

O Diário de Notícias tinha um suplemento à sexta-feira – o Dna. Em 5 de Março de 2004 (N.º 379) o Sr. Duarte Pio concedeu-lhe a mercê de uma entrevista.

Há pérolas dessa entrevista que vale a pena revelar aos cidadãos e não as deixar apenas aos vassalos. Melhor do que falar do bisavô caceteiro é pôr o Sr. Duarte Pio em discurso direto:

- «Nem se pode dizer que o 25 de Abril ou o 5 de Outubro tenham valido a pena.» (…)

- «E nessa altura aconteceu algo muito emocionante. Eu sabia que o meu pai estava doente, que estava mal, mas não pensava que fosse realmente tão grave e fui passar esse Natal com os timorenses que se reuniram no Jamor. Houve festa e uma dança com espadas. Durante a dança, quebrou-se uma das espadas e os chefes ficaram com um ar muito comprometido, fez-se silêncio, parou tudo, parou a festa. Eu não percebia o que se passava, até que alguém me explicou que quando se quebra uma espada durante aquela dança significa que vai morrer um rei. Foi exatamente na hora em que morreu o meu pai.» (…)

- «Nos países árabes, sou recebido não só como português, mas como descendente do profeta Maomé. Sim. Porque a rainha Santa Isabel é descendente do profeta Maomé. Depois casou com o rei de Aragão. (...) Por outro lado, quando estou com os meus amigos judeus, explico-lhes que através de D. Afonso Henriques também sou descendente de David...» (…)

- «...embora(...)quando eu disse que tinha sido um prejuízo enorme para a cultura portuguesa que Saramago tivesse sido distinguido com o prémio Nobel, tenham feito uma campanha hostil contra mim.» [referindo-se ao seu boneco da Contra-Informação].

Numa outra entrevista que cito de cor:

Jornalista – Que pensa de José Saramago?

Duarte Pio – É uma «ganda» merda [sic].

Jornalista – Já leu algum livro dele?

Duarte Pio – Não…


Comentários

SCarvalho disse…
Do que nós nos safámos!

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