José Saramago – 25.º aniversário do Nobel da Literatura
Há 25 anos, José Saramago, o maior ficcionista português do século XX, foi laureado com o prémio Nobel da Literatura, o Nobel do nosso contentamento.
A Igreja rangeu os dentes. O Papa que se indignou, JP2, já é
santo. O censor Sousa Lara regressou à Universidade, de onde convidaria Passos
Coelho para catedrático. O PM esperou durante anos uma reunião na vivenda de
Ricardo Salgado para Marcelo e Durão Barroso o levarem a PR.
Hoje, Saramago não precisa de panegiristas, merece apenas
ser lido com a sedução que inspira, o prazer que transmite em cada página e a
descoberta da riqueza da língua que o notável criador lavrou.
Ao indizível prazer da leitura do gigante literário que é
José Saramago junta-se o deleite pelo azedume que provocou o seu êxito e a
animosidade de que ainda é alvo.
L'Osservatore Romano, diário do Vaticano, escreveu quando
B16 era líder da Empresa: “Saramago é, ideologicamente, um comunista
inveterado” e, alguns dias depois da sua morte, distinguiu-o com os epítetos
“populista extremista” e “ideólogo antirreligioso”.
Sousa Lara, pai do exorcista homónimo, subajudante de
ministro de Cavaco, censurou “O Evangelho Segundo Jesus Cristo” e opôs-se a que
fosse incluído no concurso a um prémio literário europeu. Foi a rosto do
cavaquismo, intolerante, vesgo e analfabeto.
O eurodeputado do PSD, Mário David, nascido em Angola, e a
viver há décadas fora de Portugal, declarou ter vergonha de ser compatriota do
escritor e que este devia renunciar à nacionalidade portuguesa.
O Dr. Manuel Clemente, então bispo do Porto, depois patriarca
de Lisboa, afirmou que José Saramago “revela uma ingenuidade confrangedora
quando faz incursões bíblicas” e, como “exigência intelectual, deveria
informar-se antes de escrever”, com o se alguém o obrigasse a ele, bispo, a
pensar antes de falar.
O sr. Duarte Pio, pai da noiva que em Mafra foi ungida, no
último sábado, como a Lili Caneças do Reino, chamou-o «senil» e definiu a sua obra
como «uma ganda [sic] merda», confessando nunca ter lido qualquer livro seu – o
Sr. Duarte Pio.
Saramago teve a sorte de viver numa época, como admitiu, em que não havia fogueiras da Inquisição, e Portugal a de gerar um escritor cujas posições políticas são irrelevantes para a talentosa criatividade do Nobel do nosso contentamento.
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