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A FRASE
Por
Carlos Esperança
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A descolonização trágica e a colonização virtuosa
Por
Carlos Esperança
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Ramalho Eanes referiu como trágica a descolonização em que «milhares de pessoas foram obrigadas a partir para um país que não era o seu». Tem razão o ex-PR cujo papel importante na democracia e o silêncio o agigantou depois da infeliz aventura por interposta esposa na criação do PRD e da adesão à Opus Dei, sempre por intermédio da devota e reacionaríssima consorte, que devolveu o agnóstico ao redil da Igreja. Eanes distinguiu-se no 25 de novembro, como Dinis de Almeida no 11 de março, ambos em obediência à cadeia de comando: Costa Gomes/Conselho da Revolução . Foi sob as ordens de Costa Gomes e de Vasco Lourenço, então governador militar de Lisboa, que, nesse dia, comandou no terreno as tropas da RML. Mereceu, por isso, ser candidato a PR indigitado pelo grupo dos 9 e apoiado pelo PS que, bem ou mal, foi o partido que promoveu a manifestação da Fonte Luminosa, atrás da qual se esconderam o PSD e o CDS. Foi nele que votei contra o patibular candidato do PSD/CDS, o general Soares...
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Quanto ao enaltecimento da Rainha Njinga a Mbamde, que foi rainha do Ndongo e de Matamba, território de Angola no século XVII, como alguém que se opôs aos portugueses de armas na mão para lutar contra a escravatura, olvida a parte da história de que Njinga esteve profundamente envolvida na venda de escravos não apenas aos portugueses, mas também aos holandeses (que lhe pagavam melhor) e que aceitava perfeitamente o tráfico transatlântico de escravos desde que o negócio passasse por ela.
Ou também que os reis do Ndongo tinham o hábito de sacrificar pessoas e que Njinga o fez com grande crueldade. Eleita rainha, tratou, por ex., de eliminar quem pudesse vir a contestar-lhe o poder e um dos muitos assassinados foi um sobrinho de sete anos que matou e atirou ao rio Cuanza. Durante a sua vida a rainha manteve muitos amantes masculinos, e quando, certo dia, um conselheiro lhe fez notar que esse comportamento desrespeitava a memória de seu pai, Njinga mandou matar o filho desse conselheiro à frente dele e, depois, mandou também executá-lo.
Ou ainda que Njinga se ligou aos imbangalas que praticavam o canibalismo e que, quando casou com um deles, adoptou as práticas rituais desses grupos. Foi para cumprir uma dessas práticas e para se tornar líder imbangala, que esmagou um bebé de uma das suas servas num almofariz e espalhou a massa ensanguentada no seu próprio corpo.
Njinga não foi nenhuma anti-escravista, nem sempre se opôs aos portugueses, tendo-se convertido inclusivamente, no fim da vida, ao cristianismo, deixando-se baptizar, recebendo o nome Ana de Souza.
Que Njinga, esquecendo esta parte da história, seja considerada uma heroína nacional de Angola contra a resistência colonial portuguesa, é caso para dizer que cada povo escolhe os heróis que quer!
Gungunhana ou Ngungunhane
Quanto a Gungunhana ser para os moçambicanos um herói da resistência contra os portugueses invasores, uma melhor leitura da história de Moçambique (não a da Frelimo) talvez nos leve à conclusão que será um herói dos changanas (descendentes do império de Gaza, como Eduardo Mondlane, Samora Machel e Joaquim Chissano, os três líderes históricos da Frelimo), mas não dos restantes povos de Moçambique.
Machel queria um herói para promover a unidade nacional, cujo objectivo não foi alcançado, porque Ngungunhane é ainda lembrado pela violenta opressão de todo um conjunto de povos (chopes, ndaus, tsongas, bitongas, etc.) que foram subjugados através de um colonialismo interno (africano).
Como lembra Gerhard Liesgang, historiador alemão e professor em Moçambique "o nome Ngungunhane é também utilizado como uma pessoa que não obedece às leis", acrescentando “a fama de Ngungunhane não é a de um rei justo, mas de um rei que aterrorizava os seus próprios súbditos".
Aliás, não será por acaso que em 1995, celebrando os 100 anos da resistência do Império de Gaza, o Presidente Joaquim Chissano inaugurou um busto de Ngungunhane em Mandlakazi, na província de Gaza. E a verdade é que o busto acabou vandalizado apenas três dias depois, pelos habitantes locais alegadamente por elementos da etnia chope, situações (de restauro e vandalismo) que continuam a ocorrer frequentemente.
Gungunhana foi e é um herói, mas apenas para a Frelimo, não para os moçambicanos.