General Monteiro Valente - Discurso oficial de homenagem em Vilar Formoso 25.04.204 (16H00)
Senhor presidente da Assembleia Municipal, Professor Batista Ribeiro
Senhor Presidente da Câmara Municipal de Almeida, Eng.º António Monteiro Machado
-Autoridades civis, militares e das Forças de Segurança
Excelências
- Cumprimentos à viúva, filhas, netos e cunhado, Francisco
Beirão.
Quis o Senhor Presidente da Câmara, em sintonia com o Sr.
Presidente da Assembleia Municipal, convidar-me para recordar aqui o excelso
capitão de abril, Major-General Augusto Monteiro Valente.
Esta homenagem carregada de simbolismo é um ato de gratidão
para com o MFA que há 50 anos teceu a mais bela das Revoluções na longínqua
madrugada de abril que ora aqui celebramos.
Devemos aos heróis de abril o fim da ditadura, longa de 48
anos, e da guerra colonial que provocou 7481 mortos, 1852 amputados, 220
paraplégicos e o sofrimento em meio milhão de jovens enviados para os três
teatros de guerra, Angola, Moçambique e Guiné.
Foi, aliás, a guerra que sacrificou uma geração e comprometeu
o destino dos que tinham nas colónias vidas e haveres. Foi ela que deu origem
ao MFA, que despertou os capitães para a consciência da inutilidade e injustiça
de uma guerra antecipadamente perdida.
Mas é do capitão Valente que me cabe falar, do percurso
singular do oficial que se destacou como aluno na Academia Militar, como
combatente nos teatros de guerra e no 25 de Abril como herói, ignorando agora o
seu honroso percurso académico civil.
Cumpriu a segunda comissão na Guiné, onde chegou com um
único oficial, três tinham desertado. E esse desertaria também. Foi com
furriéis milicianos e soldados que fez corajosamente a guerra. Os mortos e
feridos, já se previa a vitória do PAIGC, fizeram parte da sua reflexão cidadã
e da memória sofrida que não o abandonaria.
Encontrava-se em Lamego quando a Revolução amadurecia no
seio do MFA. Foi o seu empenho e o receio que inspirava, que levaram a
hierarquia a transferi-lo para o RI5 da Guarda, na sequência do movimento das
Caldas da Rainha. Chegou a 21 de março.
Menos de um mês depois, já retomada a ligação ao MFA, tinha
ganhado a confiança dos oficiais, sargentos e soldados da companhia que
comandava e de outros. A sua liderança era a evidência que recordam hoje os que
o acompanharam na epopeia do 25 de Abril.
No dia 24, às 21H15 o capitão Aprígio Ramalho, ido de Viseu
à Guarda, anunciou-lhe o início das operações previsto para essa noite.
Acompanhou-o a Viseu onde conheceria os pormenores da tarefa que o MFA lhe
reservara. Às 10H00 do dia 25 percebeu que o comandante e o 2.º comandante não
adeririam antes de definido o rumo da Revolução.
A seguir ao almoço, quando se encontravam sós, deu-lhes
ordem de prisão. O segundo comandante resistiu e avançou para ele. Deu um tiro
para o chão a fim de o convencer a aceitar a situação. Deteve-os nos respetivos
quartos à guarda de oficiais mil.ºs; entregou o comando do quartel ao capitão
Pina, e partiu para Vilar Formoso a cumprir a missão, a cumprir a parte que lhe
coube nas operações que conduziram à vitória.
Foi aqui neste local que o capitão assumiu o controlo da
fronteira e neutralizou a Pide, a GF, a GNR. Foi aqui que chegou, por seu
intermédio, o MFA no dia 25 de abril de 1974, no dia em que foi derrubada a
mais longa ditadura da Europa ocidental.
Do outro lado da fronteira a ditadura vizinha começou nesse
dia a contagem decrescente rumo à democracia. Foi ele que aqui trouxe a semente
da liberdade. Em Portugal era a democracia que chegava.
O general Monteio Valente fez História. Foi a figura
emblemática do RI5 da Guarda no 25 de Abril. É justamente uma personalidade
relevante da democracia e uma referência que colocou a cidade da Guarda e o
concelho de Almeida na geografia da Revolução de Abril.
No regresso à Guarda, no relatório das operações elaborado
em 4 de maio não se sabe o que mais admirar nele, se a modéstia com que relata
a participação “nos acontecimentos ocorridos com o Movimento das Forças Armadas
de 25 de Abril 1974», se a grandeza moral com que trata os vencidos. São assim
os homens de exceção.
Hoje, cinquenta anos volvidos, as Câmaras de Almeida e da
Guarda associaram-se na homenagearam ao herói de Abril. A de Almeida, aqui e
agora, em Vilar Formoso, com esta cerimónia solene.
A da Guarda, de manhã, no Salão Nobre, entregando à viúva,
Maria Alice Pinto Freire Beirão a medalha de honra do município – Grau Ouro – atribuída
a título póstumo.
Cito os termos do diploma da condecoração honorífica da
cidade da Guarda com que o Exmo. Presidente da Câmara expressou «o
agradecimento do município que orgulha a cidade», homenagem com que o município
da Guarda se associou à que aqui e agora lhe é prestada pelo município de
Almeida:
No diploma lê-se:
«Aos 25 dias do mês de abril de 2024, e por ocasião das
comemorações do 50.º aniversário do 25 de abril de 1974, a autarquia da Guarda,
no sentido de dignificar a história da Cidade, vai homenagear a título póstumo
o Major-general Augusto José Monteiro Valente, Republicano, Patriota e Herói de
Abril que, com a heroica participação no 25 de Abril de 1974 escreveu com risco
da própria vida a melhor página do século XX no álbum da liberdade.
Assim, e pelo significativo contributo, pelos serviços de
muito especial relevância para com a comunidade e atos praticados que se
traduziram em feitos extraordinários, e contribuíram significativamente para o
desenvolvimento e engrandecimento da cidade e do concelho, atribui-se a título
póstumo a Medalha de Honra do Município – Grau Ouro – e o título de “Cidadão
Honorário da Guarda”. (Fim de citação).
Palavras justas e perfeitas para o Republicano, Patriota e
Herói de Abril que igualmente aqui homenageamos.
Obrigado pela oportunidade que me deram de homenagear tão
ínclito cidadão.
Glória ao general Monteiro Valente! Viva o 25 de Abril. Disse.
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