25 de Abril - Cinquenta anos depois
Há quem, sendo quem é, esqueça a quem o deve. Há pessoas que abril fez gente e, se pudessem, retiravam o dia 25 ao mês e suprimiam abril do calendário.
Há quem exonere da lapela o cravo e da memória a Revolução,
parasitas de alheia coragem, a comer frutos da árvore que não plantaram e a
repoltrearem-se à farta na mesa que não puseram.
Há quem cavalgue a onda da democracia com ar de enfado e
sinta azia com as madrugadas. São os chulos da democracia, proxenetas da
liberdade.
Há quem esqueça que há 34 anos alguém arriscou a vida para
nos devolver a honra, pegou em armas para nos dar a paz, derrubou a ditadura
para trazer a democracia.
Há quem despreze Salgueiro Maia, Melo Antunes, Vasco
Gonçalves, Carlos Fabião e outros mais, quem se esqueça de recolher uma pétala
vermelha de um cravo de abril em memória dos que partiram.
Não sei se a Pátria recordará, como deve, os que fizeram abril.
Mas certamente há de esquecer os parasitas que medram à sua custa e olham o
umbigo do seu narcisismo de costas para quem, há 50 anos, fez florir nos canos
das espingardas cravos.
Glória eterna aos capitães de Abril.
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