Almeida. Cinquentenário do 25 de Abril - Almoço popular comemorativo em Almeida

No 50.º aniversário da Revolução de Abril, neste almoço de homenagem à data, quando os herdeiros do fascismo ameaçam a democracia, há que recordar o País que tínhamos e que a Revolução transformou.

Portugal tinha, na Europa, a maior taxa de analfabetismo, a maior mortalidade materno-fetal, neonatal e infantil, a mais elevada taxa de tuberculose e miséria igual a países do terceiro mundo. A escolaridade obrigatória terminava na 4.ª classe e a pobreza só foi minorada na década de 60 com o envio de dinheiro dos emigrantes para as famílias.

A maior parte das aldeias carecia de água canalizada, saneamento, luz elétrica ou telefone. Às mulheres eram vedados os mais elementares direitos, desde a administração de bens do casal ou mesmo próprios, às mulheres casadas, ou da liberdade de passarem a fronteira sem autorização dos maridos.

A impossibilidade do divórcio para casamentos religiosos, a quase totalidade, deixava as mulheres reféns da exclusiva vontade dos homens.

Foi o 25 de Abril que restituiu a liberdade de informação, de reunião e de crítica; que deu à mulher o acesso a profissões que lhe eram vedadas, carreira diplomática, forças armadas, de segurança ou magistratura; que pôs termo a uma guerra inútil e injusta que causou 7481 mortos, 1852 amputados e 220 paraplégicos entre mais de meio milhão de jovens que trouxeram sequelas psicológicas para o resto da vida.

Portugal era uma prisão onde o pensamento único era imposto pela repressão, censura e medo, onde os Tribunais julgavam como crime a distribuição de panfletos e a expressão de pensamento divergente.

Os bufos eram a ameaça que condicionava as mentes, e a prisão ou o degredo o destino dos mais corajosos e consequentes.

O 25 de Abril promoveu a formação de partidos. Cerrou as grades das prisões políticas de Caxias, Aljube e Peniche, e abriu as portas do campo de morte do Tarrafal. Aboliu a censura prévia aos órgãos de comunicação social e dos espetáculos e a apreensão de livros. Os direitos de reunião, de associação e manifestação foram consagrados.

Há cinquenta anos que as forças obscurantistas se esforçam por organizar as frustrações pessoais e as injustiças sociais onde a democracia falhou para criar a ilusão de que tudo está pior quando são abissais os indicadores de bem-estar atuais com os do passado.

A falta de pedagogia cívica levou ao extremo o aventureirismo reacionário e culminou no fim de uma legislatura com a dissolução da Assembleia da República na sequência do que parece ter sido um golpe de Estado urdido no seio do Ministério Público e aceite e secundado pelo PR com a dissolução da Assembleia da República.

Hoje, cinquenta anos depois, já andam por aí os filhos dos bufos, rebufos e salazaristas, répteis do Estado Novo, alheios às prisões, torturas, perseguições e medos da ditadura.

 

São negacionistas dos assassinatos da Pide, ressentidos da liberdade que os capitães de Abril outorgaram.

«Há quem, sendo quem é, esqueça a quem o deve. Há pessoas que abril fez gente e, se pudessem, retiravam o dia 25 ao mês e suprimiam abril do calendário.

Há quem exonere da lapela o cravo e da memória a Revolução, parasitas de alheia coragem, a comer frutos da árvore que não plantaram e a repoltrearem-se à farta na mesa que não puseram.

Há quem cavalgue a onda da democracia com ar de enfado e sinta azia com as madrugadas. São chulos da democracia, proxenetas da liberdade.

Há quem esqueça que há 50 anos alguém arriscou a vida para nos devolver a honra, pegou em armas para nos dar a paz, derrubou a ditadura para trazer a democracia.

Há quem despreze Salgueiro Maia, Melo Antunes, Vasco Gonçalves, Carlos Fabião, Otelo e Vítor Alves e outros mais, quem se esqueça de recolher uma pétala vermelha de um cravo de abril em memória dos que partiram.

Não sei se a Pátria recordará, como deve, os que fizeram abril. Mas certamente há de esquecer os parasitas que medram à sua custa e olham o umbigo do seu narcisismo de costas para quem, há 50 anos, fez florir nos canos das espingardas cravos.

Glória eterna aos capitães de Abril.»

Viva o 25 de Abril! Viva Portugal.

(Discurso que irei ler - Texto agendado para o dia 25 às 16H00)

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