Eleições europeias - 2024 (Texto atualizado)
Nunca as eleições europeias foram tão decisivas como as atuais e tão desinteressantes como as tornaram os candidatos a eurodeputados.
Os portugueses, sobretudo os europeístas convictos, os que
não se refugiam na desculpa de quererem a União Europeia, mas não esta, como se
a que existe fosse imutável e não resultasse das escolhas eleitorais nos países
que a integram, sentem-se frustrados com os temas estranhos ao nosso futuro
comum.
A UE não pode alhear-se da guerra comercial entre os EUA e a
China nem da influência de autocratas a favor da extrema-direita, mas os
candidatos estão mais empenhados nas lutas internas dos seus partidos do que na
afirmação de posições ideológicas perante os grandes problemas que ameaçam a
Europa e o Mundo.
A defesa, o comércio, a diplomacia, a segurança social, a
paz e a posição da UE perante os grandes blocos e as suas ambições
geoestratégicas estão ausentes da campanha, como se a UE estivesse condenada a
ser um satélite americano, chinês ou russo.
A defesa da ONU, única instituição capaz de garantir um
módico de justiça nas relações internacionais e na defesa da paz, é abandonada,
quando a ameaçam os piores dirigentes políticos do Planeta, que a pretendem
minar e dominar.
Como europeu português, revejo-me na defesa da civilização e
da cultura europeias, na promoção dos direitos humanos, solidariedade e paz que
só a coesão da UE assegura, e, sobre isso, os candidatos pouco dizem para que
cada eleitor possa decidir o voto. Ou há um unanimismo acéfalo ou um silêncio sepulcral
perante os grandes dilemas europeus.
Já é tempo de os Governos deixarem de acusar a UE pelas
medidas impopulares que as crises cíclicas do capitalismo obrigam a tomar, e os
eurodeputados nada dizem sobre as medidas que propõem para superar a próxima
crise ou transformar o modelo que a rege.
É indubitável que seremos todos cada vez mais dependentes
uns dos outros e não são os nacionalismos exaltados que preservam a paz e
evitam as catástrofes provocadas pelo aquecimento global, a poluição, as armas
nucleares, a escassez de recursos, a falta de alimentos e água e o inverno
demográfico europeu.
Não é com o imediatismo da conquista do poder em cada um dos
países que se resolve a precipitação no abismo para que o nosso modelo de
sociedade de consumo nos conduz.
A campanha eleitoral para a UE está a ser a oportunidade
perdida para discutir e pensar uma alternativa que pode não chegar a tempo.
Sinto-me dececionado, e sinto que Portugal ficaria pior fora
da UE do que dentro.
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