Memórias da ditadura fascista – 70.º aniversário do assassinato de Catarina Eufémia
Há 70 anos o abrutalhado tenente da GNR, Carrajola, ficou na memória dos portugueses por ter assassinado a tiro uma ceifeira analfabeta, mãe de três filhos, durante uma greve de assalariados rurais, quando esta resistia à repressão fascista.
Hoje é dia de recordar, com raiva e nojo, o assassino impune, e de exaltar Catarina Eufémia, símbolo da mulher corajosa cujo martírio perdura na memória dos que não esquecem a ditadura salazarista e os alegados brandos costumes.
Quando a hidra fascista renasce sob vários disfarces, recordar a mãe-coragem de 26 anos, é homenagear as mulheres que lutaram pela dignidade e combateram a exploração.
Ser mulher, pobre, analfabeta e assalariada rural foi o ónus de milhares de portuguesas que sofreram a ditadura. Catarina morreu a combater, com a intuição de que é preferível morrer lutando do que desistir e sobreviver na escravidão.
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RETRATO DE CATARINA EUFÉMIA
Da medonha saudade da medusa
que medeia entre nós e o passado
dessa palavra polvo da recusa
de um povo desgraçado.
Da palavra saudade a mais bonita
a mais prenha de pranto a mais novelo
da língua portuguesa fiz a fita encarnada
que ponho no cabelo.
Trança de trigo roxo
Catarina morrendo alpendurada
do alto de uma foice.
Soror Saudade Viva assassinada
pelas balas do sol
na culatra da noite.
Meu amor. Minha espiga. Meu herói
Meu homem. Meu rapaz. Minha mulher
de corpo inteiro como ninguém foi
de pedra e alma como ninguém quer.
(José Carlos Ary dos Santos)
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