- “Deus Errou”. Guache aguarelado e lápis de cor, sobre papel, em formato A4. Ano: 2015.
- Colecção da Pinacoteca da Junta de Freguesia de Rio Tinto.
Sobre “o deus que habita em nós”
Por Onofre Varela
Em conversa com um amigo falávamos da diversidade de sensibilidades políticas e religiosas que unem as pessoas mas que também as separam, e muitas vezes conduzem a agressões verbais ou físicas condenáveis… só porque uns gostam de maçãs, e outros preferem pêssegos!…
Sendo, a agressão, uma atitude condenável, na verdade ela também é natural em nós. Faz parte da nossa característica de predador com que a Natureza nos dotou como sistema de defesa, ataque e sobrevivência.
Porém, se a Natureza nos fez predadores – tal como fez o leão – também nos equipou com um cérebro de características especiais, dando-nos raciocínio, sensibilidade e inteligência… faculdades que o leão não possui. Por isso nos obrigamos a usar as nossas características de “Sapiens”, contrariando o mero animal que somos, usando “o deus que habita em nós” (isto é: a sensibilidade, o sentido de fraternidade e o respeito pelo outro) abandonando a parte mais animalesca de nós que, naturalmente, faz o leão e que também possuímos.
O meu amigo arregalou os olhos de espanto. Sabendo-me ateu, estranhou a minha referência “ao deus que habita em nós”! Compreendi o seu assombro porque o Ateísmo sempre foi vilipendiado e dele se faz, erradamente, exemplo de desvio comportamental no pior dos sentidos. Na verdade não há razão para espanto; ateus e religiosos são os mesmos Seres Humanos, naturalmente com diversas sensibilidades filosóficas, mas com os mesmos sentidos de Fraternidade e Humanidade (quando não distorcidos por ideologias políticas e religiosas criminosas).
Os ateus criticam “a ideia da existência de um deus exterior a nós”, no aproveitamento social, político e económico que da ideia se faz; mas nunca criticam “o deus que habita em nós”… isto é, a ideia que nos levou à criação de um panteão e depois à sua depuração até chegarmos ao “Deus único” adorado por judeus, cristãos e muçulmanos.
O processo desta “depuração da ideia de Deus” ainda não está concluído. Faz-se na lentidão da evolução, através dos tempos, e levar-nos-à a dispensar, também, o “deus Jeová” entendido como “Deus único”, criado pelos Hebreus – a partir da importação do deus Aúra-Mazda da Pérsia (Persépolis - Irão) – depois retocado pelos Cristãos e adoptado por Maomé com a designação de Alá.
Quando refiro “o deus que há em nós”, sei que sou compreendido por aqueles que me lêem e são crentes, pois a força que sentem na crença que alimentam no “deus que habita as suas mentes” é (talvez sem imaginarem) o resquício da ancestral ideia do deus que sobrou da purga que o tempo fez aos panteões grego e romano, o que sublinha o raciocínio, a inteligência, a sensibilidade e o sentido estético que nos conduziu à criação da Arte, ao entendimento do belo… e à criação de deuses.
Esta sensibilidade é, no fundo, a característica mais visível daquela parte de nós que sublinha o facto de sermos “Sapiens”, diferenciando-nos de todos os outros animais nossos companheiros da vida que eclodiu na Terra, fazendo de nós os seres especiais e superiores que, realmente, somos. Mesmo assim, quando em discordância com os nossos semelhantes, somos capazes de adoptar comportamentos iguais aos de um qualquer animal predador inferior, porque a nossa origem animal é a mesma… embora raciocinemos, deixamos, imensas vezes, a nossa “característica tormentosa” co
E por esse caminho não é raro ficarmos em patamares inferiores aos irracionais nossos irmãos de reino, porque enquanto que eles só guerreiam por alimento, por fêmea e pelo domínio do grupo, nós fazêmo-lo pelas mesmas três razões… e ainda acrescentamos a lista, tomados por uma cupidez e irracionalidade demonstrativas do pior da nossa condição animal… o que parece incongruente com a nossa capacidade de raciocinar que nos dá a condição de “animal superior”… mas a verdade é que somos assim!…
Somos um produto natural ainda muito mal acabado, à espera que o passar do tempo nos “lime as arestas” numa evolução que nos transforme em seres superiores, inteligentes, sensíveis e fraternos… em duas palavras: verdadeiramente inteligentes!
(O autor não obedece ao último Acordo Ortográfico. Basta-lhe o Português que lhe foi ensinado na Escola Primária, por professores qualificados)
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