Divagando 21 – Portugal – um país ciclotímico
Sábado adormeci com o País em estado de choque, pela morte do sr. Pinto da Costa, e acordei domingo com cinco canais da TV em fúnebres homenagens, sem exigirem o panteão, incapazes de reprimir os soluços. Depois de percorrer quatro canais, abri o frigorífico receoso de que me saltasse uma carpideira do lugar do pacote da manteiga.
Fiquei uma hora à espera de saber se o mundo ainda girava à volta dos EUA, mas foi a euforia que assomou, por entre o choro e ranger de dentes do funeral, na substituição do Papa na missa do Vaticano por um cardeal português, um respeitável intelectual e sólido poeta a quem a voz soturna do múnus diminuía.
Só de tarde tive oportunidade de ver notícias do mundo que agora gira à volta de Kiev e Berlim, depois de o vice-presidente dos EUA vir ali dar lições de democracia a europeus e dizer que a Rússia não é o inimigo, é a própria Europa, para que percebam que o amo despreza os vassalos e um extremista de direita passou a referência ética.
Depois do aviso de que os EUA e Rússia decidirão o fim da guerra na Ucrânia na Arábia Saudita, sólida democracia do Eixo do Bem, sem que a UE se sente à mesa, talvez por fazer parte da ementa, o chanceler alemão, a sete dias de perder eleições, decide o que fará a Alemanha para honrar as promessas a Zelensky. E Macron, com cada vez menos autoridade interna, convoca uma reunião europeia para responder às provocações de J. D. Vance à Europa, com ameaças à Rússia, e talvez se fique por vagas intenções com todos os presentes a dispersarem em silêncio ao som da Marselhesa.
Em Portugal soube-se que Montenegro trespassou à mulher e filhos uma empresa, para a compra e venda de propriedades, que nunca comprou ou vendeu nem comprará ou venderá propriedades, segundo esclareceu Hugo Soares, alter ego do PM.
Hoje, Portugal gira à volta da igreja das Antas, a Europa à roda de Paris, com o PM português sem convite, e o mundo à volta da Arábia Saudita sem Ucrânia e Europa.
Chegados aqui, os leitores hão de interrogar-se se ensandeci. Mas queriam que estivesse bem de cabeça com o estado do país e do mundo?
Comentários
Na diplomacia da política externa, prevalece o aforismo de “quem não se senta à mesa do banquete, faz parte do menu”.
Ou seja, com os EUA/Trump e a Rússia/Putin sentados à mesa para decidirem o novo mundo geoestratégico (ou se calhar, apenas das riquezas da partilha da Ucrânia), a UE e a Ucrânia limitam-se a fazer parte do menu!
Falta saber quantos anos Putin, a exemplo de Hitler, demorará a renegar o pacto, a invadir e a anexar o resto da Ucrânia, os países bálticos e outras partes da Europa Ocidental, como se a paz e a democracia em que vivemos desde o término da 2.ª Guerra Mundial não tivessem sido alcançadas pela dissuasão, devido à defesa da NATO nas fronteiras a leste.
Mas agora com a “paz espúria” dos novos ditadores Trump e Putin (“benza-os Deus”) é que alguns entendem que a Europa renascerá em todo o seu esplendor de paz e democracia!