Luís Montenegro – Subsídios para o perfil de um dissimulado
Ninguém dava nada por Luís Montenegro no PSD porque o
conheciam e, fora do PSD, por falta de memória.
É verdade que foi um acaso da sorte que o levou a ser o
beneficiário do golpe urdido no Palácio de Belém entre Marcelo e Lucília Gago e
executado pelo primeiro em decisões sucessivas para derrubar o governo de
maioria absoluta, mas Montenegro tinha já dado provas do que era capaz como
líder parlamentar, a defender o governo de Passos Coelho e Portas, o governo
mais à direita da democracia, antes do seu.
Não era a ele que Marcelo queria entregar o excedente
orçamental que António Costa retinha para gerir nos anos do resto do mandato
que lhe foi interrompido, mas foi ele o beneficiário que o usou para as
eleições por que ansiou desde o início do seu governo.
Montenegro ainda não deu provas de saber governar, é
provável que venhamos a chorar a sua passagem por S. Bento, e já deu provas do
que é capaz para preservar o poder e do que consegue fazer para dar a impressão
de que qualquer outro, dentro ou fora do PSD, seria pior do que ele. Dá como
garantia da sua governação na próxima legislatura o ano de 2024, os nove meses
do Orçamento do PS que lhe permitiram tamanho brilho.
Era tão hábil a defender Passo Coelho como agora a defender
o seu governo cavaquista com sotaque do Norte. Levou os sócios e os negócios com
ele, e é tão hábil a dissimular uns e outros como a convencer o País de que a
Saúde e a Educação, estando piores, são agora melhores. Consegue sempre evitar
o escrutínio e encontrar quem o defenda!
Montenegro gere a verdade como as contas bancárias, divide-a
em pequenas doses para evitar o radar da imprensa, do Tribunal Constitucional e
da opinião pública, e substitui-a por desculpas avulsas arrancadas a
saca-rolhas. E quando já não pode fugir refugia-se na entrega ao Ministério
Público de alegadas provas cujo escrutínio cabe aos eleitores.
Não convence os portugueses da sua honradez, apesar dos
esforços seus e dos ministros que mobiliza para o defenderem, mas finge que é
tão eficiente a criar riqueza para todos como para si próprio e para os filhos.
O país não é a SPINUMVIVA e Portugal não precisa tanto de lobbying
como os clientes da empresa que o enriqueceu e que, de mão em mão, transferiu
para os filhos.
Na campanha eleitoral faz promessas para além do que pode
cumprir, mas, se ganhar as eleições, tem as empresas públicas que quer
privatizar, para pagar o défice, e, se perder, deixa uma herança em que possam germinar
saudades.
Entretanto, antecipa todos os pagamentos num frenesim tal
que só lhe falta antecipar o pagamento do subsídio de Natal para o início deste
mês de maio.
E, em êxtase narcísico, embalado pelo efeito Miguel
Albuquerque, na Madeira, que hoje toma posse, cria o neologismo montenegrização,
para impor os seus desejos e valores, inclusive na ética: “não fiz nem mais nem
menos do que faz qualquer português”.
Estamos montenegrizados!
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