Carlos Matos Gomes, capitão de Abril
Faleceu hoje um dos mais fascinantes capitães de Abril. Homem de enorme coragem física, intelectual e cívica mostrou ser na guerra dos mais intrépidos e na paz dos mais lúcidos e fecundos pensadores.
Militar, historiador, escritor e pensador deixa uma obra notável onde avultam romances de grande qualidade, certamente o maior sobre a guerra colonial, Nó Górdio, e um livro que retrata bem o que foi essa guerra tenebrosa em que a ditadura precipitou a geração que foi a dele e de muitos de nós, Geração D.
Matos Gomes desmascarou as ideologias que disfarçam interesses e nunca teve medo de pensar. Cidadão impoluto, exerceu uma notável pedagogia cívica e nunca se conformou com o politicamente correto.
Não era o catequista que queria persuadir os outros do seu ideário, era um militante da liberdade coerente com o pensamento.
Vai fazer-nos muita falta, mas ficam dezenas de livros e milhares de artigos seus em que exerceu a pedagogia cívica e ajudou a refletir os que dele divergiam, e era a maioria.
Obrigado, Matos Gomes.
Comentários
Ainda há poucos dias nos dizia:
"O rearmamento da Europa faz tanto sentido como comprar uma armadura e um arreio de prata para um burro velho e convencer os pagantes de que têm ali um cavalo de batalha que os defenderá de um inimigo imaginário. O Dom Quixote de La Mancha antecipou este cenário."
E foi também Carlos Matos Gomes que sobre o Portugal de hoje nos falou sobre os Devoristas de Novembro:
"Para os devoristas, Portugal é uma marca (Allgarve) e um mercado. Os cidadãos são consumidores. A coroa de glória dos devoristas do 25 de Novembro são as Parcerias Público-Privadas, não foi o assalto ao quartel da Ajuda."
Foi com os Capitães de Abril que, na minha adolescência, tinha 12 anos aquando do 25 de Abril, que aprendi o sentido da Liberdade, da Democracia, da Justiça.
Sabendo que o caminho inexorável da vida nos traz dor de ver desaparecer aos poucos todos aqueles que lutaram e deram a cara pe Liberdade e pela Democracia.
Para si, Capitão, peço que continue por cá muitos anos e que nos traga sempre a sua deliciosa prosa.
Abraço
Apesar de quatro anos e quatro dias de serviço militar obrigatório, com 26 meses na guerra colonial, voltei a ser civil em 1970 e sou defensor da paz. Um abraço.
Abraço