Marcelo – A memória e a perceção dos portugueses

A memória dos povos em relação ao clima e à política é demasiado curta. Basta um dia de frio num determinado mês, por acaso o mais quente de sempre, para encontrar quem se queixe de um ano especialmente frio.

Na política esquecem-se facilmente os políticos que maiores progressos asseguraram e rapidamente se branqueiam os mais perniciosos. É assim que, meio século depois do 25 de Abril, surge robusto um partido fascista a branquear 48 anos de ditadura e de atraso.

É assim que, em menos de dois anos, se esquece quem lançou o país numa sequência de eleições que agravam a instabilidade e comprometem o futuro dos portugueses. E só há um único responsável, Marcelo Rebelo de Sousa. 

O azougado PR nunca perdeu o jeito infantil das travessuras que o levaram a conspirar dentro do partido (PSD) para levar ao poder, em cada momento, alguém da sua ala mais reacionária. Cavaco, ele próprio ou Montenegro são produtos seus. Combateu Rui Rio a partir de Belém e entregou o poder a Montenegro, à falta de pior, porque era Moedas o desejado, um homem tão dissimulado quanto ele, Marcelo, e ainda mais à direita.

As pessoas já esqueceram as diatribes contra Jorge Sampaio quando disputou a Câmara de Lisboa e a invocação do perigo do comunismo, acusação de Cavaco contra o mesmo alvo quando disputou a presidência da República. E já se esqueceu a sua luta contra a despenalização da IVG, as manobras para a impedir, os dois referendos a que obrigou e as mortes e sequelas que pesam sobre ele em abortos clandestinos que dilatou no tempo. Tal como já se esqueceu o censor, então líder do PSD, cuja intervenção pública levou ao despedimento de Herman José do canal público da TV. Foi ele, Marcelo, o Torquemada. 

Pessoas sem ética, como Cavaco e Marcelo, facilmente passam a designar de moderados os que antes acoimaram de radicais de esquerda para guardarem a mesma acusação para qualquer outro sucessor.

Marcelo foi o único responsável pela instabilidade que ora se vive e pelo crescimento do Chega. Sem ele não teria surgido o parágrafo assassino e, muito menos, seria impedido um governo de maioria absoluta com Mário Centeno como PM. 

Os atuais estudos de opinião são eloquentes quando à desmemória do eleitorado e à recuperação de Marcelo, um dos mais tóxicos políticos da democracia.


Comentários

Mensagens populares deste blogue

A descolonização trágica e a colonização virtuosa