CAVACO SILVA : o resignado e/ou o cúmplice...

Na mensagem - sem inovação e sem “chama” - que ontem dirigiu ao País a quando na entrada no novo ano o PR, a propósito das dificuldades que se nos deparam, afirmou:

“…Somos todos responsáveis. Esta é a hora em que todos os portugueses são chamados a dar o seu melhor para ajudar Portugal a vencer as dificuldades…” link

Ficamos na dúvida se o “somos” se refere à classe política (de que o PR, embora não querendo, faz parte) ou aos portugueses e portuguesas.
Teria sido melhor usar a palavra “fomos”. Porque Portugal não vive numa democracia directa onde passo a passo os cidadãos podem interferir na definição de opções políticas. O nosso regime, desde o 25 de Abril, é uma democracia representativa onde são definidos os grandes objectivos estratégicos nacionais para um quadriénio. O excessivo endividamento que resultou para cumprir objectivos e/ou promessas eleitorais foi obra de decisões político-partidárias que envolveram vários quadrantes dos poderes públicos e das oposições.
Os eleitores estavam representados pelos eleitos nas instituições do Estado mas não interferiram (por não dispor de meios expeditos) directamente.


A asserção do PR assenta no branqueamento das responsabilidades dos principais actores (políticos) para, no concreto, sublinhar o carácter colectivo das tarefas necessárias ao resgate do País, invocando o indispensável “esforço de todos”. Sendo esta última constatação uma verdade lapalissiana ela incorpora no seu seio uma contradição – que a Presidência da República tenta ladear –, isto é, uma activa participação da sociedade civil, ou se quisemos, o reforço do exercício dos direitos (e deveres) de cidadania.

Não tivemos sinais desse tipo vindos de Belém. Por exemplo: os “movimentos de indignados” que por diversas vezes saíram a terreiro no nosso País mereceram, ao longo do ano transacto, uma olímpica indiferença do PR. Por alguma razão o foco de contestação desses movimentos foi a AR.
De facto, é enternecedor reconhecer como fez o PR na mensagem de 01.01.2012: “…Conheço a ansiedade de milhares de jovens para quem tardam os caminhos com que sonharam, muitos dos quais procuram a sua sorte longe da família e do seu País, quando tanto precisamos deles…” (link).
Conhecer tem duas consequências: actuar ou resignar-se. Cavaco Silva nestas circunstâncias opta por resignar-se. Foi, a metodologia que usou para face às denúncias produzidas sobre iniquidades existentes no OE 2012, nomeadamente, nas questões da política fiscal e de austeridade, Bem, no final de Dezembro promulgou o dito Orçamento (link) dispensando qualquer fiscalização de constitucionalidade das medidas aí inclusas. Mais uma vez resignado.

Pelo que a mensagem que transmitiu deve ser entendida como um deslocado apelo à resignação dos portugueses e portuguesas que, constitucionalmente, representa.
Este OE entrará na história da democracia portuguesa pelas intempestivas e draconianas medidas que impõe aos portugueses (que excedem o programa de resgate que o País está obrigado) empurrando-nos para um trágico empobrecimento. Cavaco Silva fica de costas na fotografia. De joelhos sob o peso das suas responsabilidades não é propriamente um protagonista, mas não deixa de ser um oculto cúmplice. E, como sabemos, dos fracos não reza a História.

Comentários

Mensagem resignada e bisonha como os tempos em que vivemos (em que nos obrigam a viver). Para dizer o que disse, mais valia ter ficado calado.
Nem todos são responsáveis pela crise. Os mais pobres não têm responsabilidade nenhuma, até porque nem sequer tinham dinheiro suficiente para se endividarem.
Mas são esses que mais sofrem com a crise.
Mesmo que fôssemos todos responsáveis, a verdade é que as medidas de austeridade deste Governo só atingem os menos favorecidos. Os ricos, como sempre, ficam imunes.

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