Momento zen de segunda_09_01_2012
João César das Neves (JCN), com vasta erudição no campo da religião e da zoologia, confessou-nos recentemente que ele é um asno e que no céu também há cavalariças, sendo a primeira afirmação fácil de acreditar e a segunda de duvidosa prova.
Na homilia desta segunda-feira o santo asno perorou sobre a morte de um dos grandes intelectuais do nosso tempo e insigne ateu – Christopher Hitchens – , falecido em 15 de Dezembro e que desmascarou as mentiras pias e o perigo das religiões,
Talvez para não perder o direito à estrebaria que julga ter reservada no Paraíso (seja lá isso onde for) JCN escreveu umas tantas asneiras convencido de que elas lhe aplainam o caminho da salvação, uma espécie de prolongamento da vida que um ser hipotético reserva aos que acreditam na sua existência e praticam uns rituais exóticos apelidados de sacramentos.
JCN define ateísmo como « a doutrina religiosa com o dogma de que Deus não existe», comparando a dúvida à irracionalidade da fé e a desconfiança nas afirmações para as quais não existem provas com a crença irrefletida nessas afirmações, no seu caso com algumas tão exóticas como a virgindade de uma mulher parida ou a infalibilidade de um papa obsoleto e rancoroso – Pio IX.
Quanto à existência de deus, JCN esgrime uma sibilina ameaça comparando os dogmas com o ateísmo: «Um dia veremos, mas então será demasiado tarde». Será difícil que algum ateu pense, depois da morte, na possibilidade de zurrar numa cavalariça comum com o devoto escriba no paraíso dos católicos apostólicos romanos.
JCN acusa os ateus, de que Hitchens é o paradigma, por terem como traço principal não o ateísmo, bastante comum, mas o violento e persistente ataque à religião, como se só houvesse uma, ou as religiões fossem um exemplo de fraternidade entre si, e o ateísmo fosse mais do que uma opção filosófica de quem cultiva a razão e confia na ciência para elaborar os seus modelos de racionalidade.
Quanto aos ataques à religião (JCN sabe que todas são falsas menos a sua) confunde a discussão filosófica e os ataques a crimes, sejam eles cometidos por ateus ou crentes, feitos em nome do humanismo contra o proselitismo religioso que há milénios comete os mais ignóbeis crimes e os mais sangrentos genocídios.
Para mostrar a dificuldade em dialogar com pessoas com referências diferentes (ateus?), JCN afirma: Imagine-se o embaraço no convívio com promotores do canibalismo, escravatura ou poluição. Nisso tem razão. Basta ler a Bíblia e ver como a escravatura, a tortura, a violência e a morte dos infiéis são referências pias que tornam embaraçoso o diálogo com o humanismo ateu herdado do Iluminismo e da Revolução Francesa.
Comentários
devia ser por isso que tinha mau feitio....
Isto obviamente não desculpa o carácter remisso do jihadismo católico de JCN.
E tudo isto faz-me pensar que deveríamos equacionar uma obra conjunta entre os colaboradores do Ponte Europa sobre um ateísmo neutro, despido de preconceitos e de verrinas.
De qualquer forma, bom Ano Novo, e obrigado pelo exercício filosófico de hoje ;)
(87anos),penso que um ateu é o que nega a existência de Deus.E eu não quero ser panfletário mas só quero dizer que admito que haja quem creia em Deus mas não posso admitir
em meu pensamento que haja quem se atreva a definir Deus e pior um pouco,a dizer que êle quer que façamos assim ou assado.Nem creio que Abraão ou o Moisés tivesse falado com Deus e dêle tivesse recebido as Tábuas da Lei que são os Dez Mandamentos dos biblico-judaico-cristãos.É uma vigarice dizer que o lendário judeu Jesus,é filho de Deus e que sua mãe Maria depois de parir,ficou virgem e que êle depois de morto ressuscitou e que subiu ao Céu sem foguetão e está sentado à mão direita de Deus Pai.Tudo isto é uma Vigarice dos Vigários de Cristo e a vigarice é
um crime.
Perante uma tão bem fundamentada e sintética análise tenho algumas coisas a dizer:
1 - Fazem falta no Ponte Europa os posts do Rui;
2 - Perante o proselitismo religioso o combate panfletário pode ser pedagógico;
3 - Cada um tem o seu próprio estilo de abordagem dos problemas;
4 - Não podemos deixar passar em claro a luta religiosa que está em curso na Nigéria nem a consolidação do fascismo islâmico nos países onde os mais apressados viram uma primavera árabe.