O Governo, a fé e a inépcia


Os estagiários que Cavaco Silva, com o seu rancoroso discurso de vitória eleitoral, ajudou a conquistar o poder, sem dar tempo ao PSD para escolher um líder experiente, estão a revelar uma faceta piedosa com que pretendem esconder a inépcia.

O ministro da Economia escreveu um livro, não para apontar os caminhos para a saída da crise, que nos atormenta, mas para procurar a salvação da alma, que o aflige, lamentando que a diocese de Braga tenha diminuído a produção de padres católicos, atividade em que o seu seminário maior se destacou.

O inefável ministro Paulo Portas, que se deslocou a Coimbra às exéquias da perpétua reclusa Irmã Lúcia, por altura do seu passamento, e que agradeceu à Senhora de Fátima ter enviado ventos e marés para desviarem a poluição do navio Préstige para a costa da Galiza, colocou no ministério uma política inapta a responder ao problema da seca mas capaz de rezar uma novena: «Devo dizer que sou uma pessoa de fé, esperarei sempre que chova».

O ministro da Saúde que encomendou uma missa para os funcionários da Direção-Geral dos Impostos, quando foi seu titular, vai encaminhando os doentes para as Misericórdias e não tardará a promover uma peregrinação a Fátima para que sejam obrados milagres nos doentes que custam dinheiro ao erário público.

Falhado o conselho de um secretário de Estado, corroborado pelo primeiro-ministro, para que os jovens desempregados emigrem, o líder da JSD apresentou, como proposta para combater o desemprego, uma ideia original: «É sobretudo uma questão de fé e de acreditar que é possível».

Neste coro beato só faltava o antigo ministro do CDS, agora deputado, Telmo Correia a opor-se à adoção gay com o argumento de que a lei era “contrária à vontade do criador”, querendo dizer com isso que, perante o Parlamento e o seu deus, que não tem aí assento, é a vontade do ausente que deve ser levada em conta.

Este triângulo, Rua de S. Caetano, Largo do Caldas e palácio de S. Bento desistiram de um módico de pudor republicano, tornando-se na Comissão Fabriqueira da Paróquia de São Bento.

Comentários

e-pá! disse…
E a "fé na chuva" apregoada pela Ministra Cristas?

Esperemos que seja uma coisa contida senão teremos por aí um dilúvio (daqueles que os cães bem água de pé!).

Entretanto, não seria melhor ir tratando dos apoios necessários para minorar a "seca", mesmo só tendo à mão "comuns mortais"?
Ou, não quererá a Ministra, encomendar ao CCB um curso de "danças da chuva"?

Há, para além das crenças, tanto trabalho para fazer!

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