A Turquia e a igreja de Santa Sofia

O majestoso edifício bizantino dos Anos Trinta do século VI, Aya Sophia, um templo milenar, foi sucessivamente igreja cristã ortodoxa, cristã latina, mesquita e finamente museu, desde 1931.

A transformação em museu, onde permaneceram os minaretes, foi a herança de Atatürk, o desejo de promover a neutralidade religiosa e a secularização da Turquia. Foi o legado do criador da Turquia do século XX na vigorosa exigência da modernização do País.

A neutralidade religiosa da mais significativa e sumptuosa obra da arquitetura bizantina foi, durante quase 90 anos, símbolo da separação da Igreja e do Estado. Não consentiu o proto Califa Erdoğan, na ânsia de re-islamizar a Turquia, o símbolo tão emblemático do secularismo no País que quer dedicar à sua religião, uma religião onde o direito é ainda a alegada vontade do profeta que Atatürk definiu como ‘beduíno analfabeto e amoral’.

Devagar, a separação das Igrejas e do Estado, marca civilizacional e democrática, vai cedendo ao proselitismo religioso. A nossa civilização está em perigo. Recentemente voltaram a ser em maior número os países que vivem sob regimes autoritários.

De Erdogan espera-se sempre o pior. O papa Francisco declarou no último domingo, dia 12, que está “muito entristecido” com a decisão da Turquia de transformar a basílica de Santa Sofia de museu em mesquita.

À semelhança a UNESCO, o papa Francisco manifestou o sentimento generalizado na defesa da civilização e da cultura.

Foi pena o Vaticano não ter censurado o bispo de Córdova, Espanha, ao registar como propriedade da diocese, em março de 2006, como ‘Santa Igreja Catedral de Córdoba’, a colossal mesquita, património da Humanidade (1984), com o valor patrimonial de 30 €, em afronta à decência, num roubo ao Estado espanhol e numa provocação ao Islão.

A Europa esqueceu a sangrenta Guerra dos Trinta Anos e a Paz de Vestefália. Até o seu estudo vai caindo em desuso.

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