Foto: Eduardo Gageiro
No 50.º aniversário da sua inumação – Salazar e o ensino

Perante a falsificação da História, metodicamente feita por velhos e novos salazaristas, urge redobrar a paciência e com o método do velho professor primário que sou, repetir, repetir e repetir até cansar os panegiristas do ditador.

Um leitor, dos que surgem na minha página do Faceboock, em comissão de serviço do Chega, afirmou que nuca se construíram tantas escolas como no tempo do tirano.
Vou referir de memória o que acontecia nesses tempos de obscurantismo, sem repetir os outros crimes da ditadura.

As escolas primárias funcionavam com o mínimo de 35 alunos e eram extintas se fosse transferido ou morresse 1 só aluno e ficassem reduzidas a 34. Passavam imediatamente a “posto escolar”, tendo ‘a’ professora de sair (sem vencimento, se fosse agregada), e de concorrer a nova vaga. Os alunos ficavam sem aulas até que o Posto Escolar fosse a concurso e uma ‘regente escolar’* concorresse.

Quando fui aluno do ensino primário eram obrigatórios os 4 anos de escolaridade para rapazes e 3 para meninas, passando a 4, para ambos os sexos, no final da década de 50. Não havia cantinas e a fome, no pós-guerra, fustigava as crianças.

Ensino público, além do primário, só havia nas sedes de distrito, Liceus Nacionais. Nos concelhos mais ricos havia colégios particulares, pagos por quem podia, geralmente da diocese ou de sócios locais. Salazar deixou o país com o analfabetismo a rondar os 40%.

Referir os preâmbulos dos decretos do tempo do ministro Carneiro Pacheco é o maior libelo acusatório a quem quis um povo inculto, para mão de obra barata. A filosofia da ditadura era ensinar a ler, escrever e contar, sendo o posto escolar a escola pequenina onde outra de maiores dimensões era atentatória da humildade da população.
As únicas Universidades eram as da 1.ª República, Lisboa e Porto, além da de Coimbra.

Uma professora podia tornar-se efetiva sem concurso se oferecesse o edifício ao Estado, o que aconteceu com gente abastada para ter a filha na localidade onde havia alunos e não havia escola. Os professores tinham sempre vaga porque eram poucos e tinham preferência nas escolas masculinas, quase metade, pois a coeducação era combatida e só havia escolas mistas, onde os homens não podiam lecionar, em meios pequenos.

Podia referir também o pedido de autorização das professoras para casarem, com quem tivesse rendimentos superiores aos seus e exibisse um atestado de bom comportamento moral e cívico passado pelo padre da paróquia de nascimento.

Sinto vergonha de recordar esses tempos e a mesquinhez da ditadura que embruteceu o povo e o obrigou à “apagada e vil tristeza” que já Camões referia.

* Docente com 4 anos de escolaridade mínima e aprovação em exame para Regente Escolar. Um professor agregado ganhava 1600$00 por mês, sem ganhar nas férias, e uma regente agregada (quase todas) 600$00 durante os meses de trabalho. Assistência médica não existia.

Comentários

Aval disse…
trites salazaristas que vomitam alarvidades.

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