A Maçonaria, o Opus Dei e a obrigatoriedade de magistrados e políticos denunciarem a sua pertença
Como se previa, a lei aprovada e hoje promulgada pelo PR, não torna obrigatório que os seus membros o declarem. Não havia outra forma de contornar a inconstitucionalidade. É, pois, uma lei inútil, destinada a lançar o labéu da infâmia sobre os maçons.
Há uma perversa vocação inquisitorial em marcha, uma avidez
da devassa pessoal que a CRP não acolhe, e serve a luta partidária. Esta lei resultou
da luta interna do PSD, onde se quis atingir destacados adversários de Rui Rio,
esquecendo o que o PSD deve ao ex-presidente Emídio Guerreiro, o corajoso maçon
que combateu o fascismo em Portugal e, de armas na mão, em Espanha e França.
Tenho por uma das organizações grande estima e antipatia por
outra, mas não confundo os membros com as organizações, e ambas se encontram
legitimadas pelo ordenamento jurídico do Estado de Direito democrático que nos
rege.
Há cidadãos honrados e delinquentes em ambas, mas é a
perseguição à maçonaria, essa obsessão salazarista contra a Maçonaria, impulsionadora
da Revolução de 1820, do 31 de Janeiro e do 5 de Outubro, que regressa. Até a
associação do livre-pensamento ao dogmatismo católico não é inocente. É o
regresso manso ao fascismo sob o pretexto da transparência. Na ditadura os
maçons foram presos e a Obra recebida em apoteose.
Conheci e fui amigo do primeiro supranumerário do Opus Dei
em Portugal, um amigo e conterrâneo da minha mãe, Miuzela do Coa, o excelso e
honrado cidadão aliciado pela Obra, que viu no cientista de dimensão
internacional a intensa devoção religiosa que o levaria a preferir o cilício ao
matrimónio. Foi o cientista António Pinto Peixoto que tem no Campo Grande, em
Lisboa, enorme e merecida estátua, não pelas missas, orações e jejuns, pelo
gabarito científico do catedrático do IST, notável meteorologista.
Reconheço em Mota Amaral, outro supranumerário da Obra, o
democrata de longa data e insigne político que ocupou o 2.º lugar do Estado, presidente
da AR.
Já o P.e OD, Hugo de Azevedo, que este ano festejou o 50.º
aniversário do ordenamento sacerdotal, merece a execração pelo reacionarismo e
ódio à democracia que bolçou no Jornal de Notícias. Um destes dias publicarei
aqui a minha contundente carta que o JN acolheu, talvez farto do colaborador troglodita.
Sobre o Opus Dei, vou exumar textos da NET, do extinto blogue Diário Ateísta, para divulgar aqui, mas hoje era apenas a lei promulgada que desejava comentar.
Comentários
O que levará um conjunto de cidadãos democratas a constituírem uma sociedade secreta ?
Não me parece que sejam motivações altruístas que estão por trás da adesão a sociedades secretas.
Desde sempre as sociedades de pedreiros livres defenderam os interesses desses pedreiros da prepotência dos monarcas e da nobreza em geral. Os maçons de hoje tendem a unir-se para defender seus interesses da prepotência do Poder Democrático, dizem. São pedras na engrenagem das institições democráticas.
As sociedades secretas não devem ser proibidas, porque em democracia existe liberdade de associação e de reunião, mas os seus membros deviam ser severamente punidos quando participam em conspirações que sobvertem a ordem democrática.
Mesmo quando se trata de coisas simples. Por exemplo usar a influência de irmão da loja para alterar uma promoção da função pública. É o pão nosso de cada dia...