Não gosto…
Não gosto. Decididamente, não gosto de ver bater em quem está no chão, por mais alto de onde tenha caído ou por mais baixo de onde não se erga, seja o imigrante seviciado por forças policiais, divertidas pela impunidade da farda e a brutalidade animalesca dos mancebos, seja um banqueiro servido aos telespetadores, a tremer, em pijama e com algemas exibidas num corpo alquebrado.
Quem preza a Justiça deve envergonhar-se da vingança e só os cobardes são capazes de se calarem perante os poderosos para os achincalharem quando caem em desgraça.
Decididamente, não somos um país à espera de Justiça, somos um conjunto de cobardes à espera de espetáculos gratuitos, humilhações escusadas e vinganças para a catarse das nossas próprias faltas de amor-próprio.
Não gosto, decididamente não gosto de ver transformada em folhetim a notícia, de ver a decadência humana erigida em castigo público, a humilhação com mérito mediático, e a delação como virtude cívica.
Não gosto, decididamente não gosto. Sinto nojo do que vejo e pergunto-me como é que alguém, a quem cabe informar, entra em delírio, com grunhidos apoteóticos sobre quem a Justiça persegue, independentemente dos delitos que tenha cometido.
Não somos um país, somos um hospício sem assistência psiquiátrica e sem vagas para internamento.
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