Os convites pios dos Magníficos Reitores da Universidade de Coimbra (Texto não aconselhado a crentes, sobre a missa de hoje na U.C., na capela de S. Miguel)

Quando, há seis anos, tomei conhecimento do primeiro convite, julguei que o reitor era o pároco da Sé Velha e a Universidade uma madraça de eventual monarquia teocrática.

Afinal, era o convite para a missa do dia 8 de dezembro, na Universidade de um Estado laico e republicano, oriundo da mais alta figura institucional de uma escola secular. O que não esperava era que se convertesse em tradição, no ano seguinte e nos vindouros.

Quando a Constituição e a República são assim agredidas, sem respeito pela separação do Estado e da Igreja, vemos a cidadania desprezada por quem julgávamos ser a reserva intelectual da neutralidade religiosa e da ética republicana.

Perante o silêncio cúmplice de quem devia zelar pela CRP, o Reitor da Universidade de Coimbra converteu-se no muezim romano.

Depois do antecessor ter iniciado a pia tarefa, o atual reitor começou as funções ungido com a missa integrada na cerimónia de posse, e nunca mais abdicou de ser o almuadem católico, a convidar docentes e discentes para cerimónias pias em honra da Imaculada.

O Magnífico Reitor, Amílcar Falcão Ramos, depois de ter proibido a carne de vaca na cantina da U. C., como os talibãs a de porco, limita-se a um convite anual para festejar o dogma de Pio IX. É um crente moderado, comparado com o homólogo de Teerão.

Falcão Ramos não perde as asas com que voou para reitor, mas empenha a dimensão do cargo, convidando, com o capelão, professores, alunos e funcionários, para a missa de homenagem à padroeira da Universidade – a Imaculada Conceição –, a 8 de dezembro, às 12H00, na capela de S. Miguel.

Apostila – Ignoro se o Magnífico Reitor Falcão Ramos, à semelhança de tantos crentes, conhece o «Dogma da Imaculada Conceição», tão difícil de digerir pelos clérigos da época. O Papa Pio IX, na bula Ineffabilis Deus, em 8 de dezembro de 1854, definiu a Imaculada [«sem mácula do pecado original»] Conceição, antecipando a reprodução medicamente assistida.

Terá sido inseminação divina, pensa o autor deste texto, graças ao dedo da Providência, o mesmo dedo que a engravidaria do filho de Deus.


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