Porto / Gaia – A sétima ponte sobre o Douro

11-12-2021 - Era o dia do aniversário do grande cineasta Manoel de Oliveira que aos 106 anos ainda mantinha o génio e a força indómita que o obrigava a filmar.

Realizador de culto, continua vivo nas soberbas imagens do rio Douro com que extasiou os cinéfilos e nas trinta e duas longas-metragens que legou. Manuel de Oliveira não foi apenas uma enorme personalidade do Porto, foi uma glória nacional e a referência portuguesa internacional da sétima arte.

Quando se anunciou a construção da sétima ponte, mais uma a ligar o Porto a Gaia, um grupo de personalidades pediu aos autarcas respetivos que, em homenagem ao genial criador, fosse dada à nova ponte sobre o Douro, o seu eterno Douro, o nome de Manoel Oliveira.

Os autarcas de Gaia, PS, e do Porto, de partido incógnito, preferiram dar à nova ponte o nome do bispo António Francisco dos Santos, um clérigo obscuro que, após três anos de episcopado no Porto, faleceu inesperadamente de ataque cardíaco, aos 69 anos, quando ainda lhe restavam seis anos de prazo de validade canónica.

Os dois edis preferiram o nome do bispo falecido ao rasgo de inteligência que os levasse a consagrar o aristocrata, nascido em Cedofeita [Porto], que não se limitou a olhar pela câmara, aprendeu a ver o mundo e a mostrá-lo na tela.

À pequenez dos autarcas das duas margens, à evocação do nome de um clérigo vulgar, os portugueses hão de preferir evocar essa força da natureza, esse teimoso da vida e da esperança, que continuou a ter projetos até depois dos 106 anos.

Obrigado, Manoel de Oliveira.

Comentários

Monteiro disse…
O obscurantismo não nos larga e manifesta-se de muitas e variadas formas.

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