Reflexão – não há inocentes
É impossível manter a serenidade perante o sofrimento de refugiados, de onde quer que sejam, o êxodo da Ucrânia, a ameaça de destruição do mundo, e manter um módico de serenidade para refletir e não atear a fogueira que arde.
Das ditaduras nada me surpreende, mas das democracias, mesmo
perante horrores, exijo que não se comportem como ditaduras, que não atraiçoem
a superioridade moral que as distingue, que resistam ao mimetismo dos que
odeiam a liberdade.
Nunca vi tanto belicista como nos dias atuais, tanta
intolerância para quem diverge, tão feroz propaganda, onde a verdade e os
factos sucumbem perante ameaças e mentiras.
Julguei que tinha sido um pesadelo noturno, agitado com o
ambiente onde a paz deixou de poder ser defendida, ao confirmar hoje que as
redes sociais Instagram e Facebook passaram a “permitir o incitamento ao ódio
contra russos e os apelos à morte de Putin”.
Senti um calafrio ao conhecer o apelo da OMS à Ucrânia para
a “destruição dos agentes patogénicos de alto risco”, pensando que não havia aí
laboratórios da guerra química.
Quando julgávamos que a natureza humana não podia descer tão
baixo, há sempre uma surpresa que nos aguarda.
Se pensarmos que os homens, cegos pelo ódio ou vítimas da
brutalidade, são capazes de conservar alguma humanidade e decência, acabaremos
a lamentar a nossa ingenuidade.
Os marginais ganham eleições e bandos de pulhas normalizam a
indiferença e impõem a baixeza moral e a indignidade cívica.
Quem nos defende da censura, do ódio, do relativismo moral,
da guerra e das tragédias e do abismo que nos aguardam?
Teremos de ser nós, cada um de nós, a combater os demónios
que despertam dentro de nós, a exigir a paz e a denunciar a guerra, onde não há
inocentes.
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