MEMÓRIAS DO 10 DE JUNHO
Se há datas que não conseguem libertar-se da memória salazarista, o 10 de junho é a que me desperta a amarga memória dos mortos e estropiados da guerra colonial que a minha geração sofreu.
Aliás, a celebração da morte do grande poeta Luís de Camões
acompanha a sorumbática cerimónia que o atual PR resolveu duplicar nos dias 10
e 11, como se não bastasse o dia para evocar a morte. Repete as comemorações no
dia seguinte.
Espera-se que, na vertigem mediática e devota, não decida, ao
arrepio da laicidade a que é obrigado, e tantas vezes trai, passar a festejar e
duplicar os dias dos feriados religiosos, sob pena de nos entrar em casa duas
missas em cada feriado que a ditadura criou e a que a democracia ainda
acrescentou outro.
Ninguém calcula a inquietação que inspiram os militares que
fizeram a guerra colonial e comparecem com os restos de camuflados no 10 de
junho e nas peregrinações a Fátima, no primeiro caso ainda convictos de que foi
justa a guerra e no segundo de que devem à intercessão divina a sobrevivência
que os que lá morreram nunca puderam agradecer.
Jorge Sampaio ainda pretendeu dar à data um carácter
civilista, mas os sucessores não aprofundaram o exemplo.
Por isso, não assisto às cerimónias do 10 de junho,
limito-me aos noticiários.
Do anterior inquilino de Belém há dois anos que ficaram para
a História, o de 2013, em Elvas, onde teve a proteção de Espanha, e o de 2014,
na Guarda, onde teve um chilique.
Em 2013 borrou-se de medo; em 2014 desmaiou.
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