PSD – A rudeza das palavras e os juízos de valor
Às vezes lamento ter de combater os partidos onde tenho amigos cujo pensamento não é sequer muito divergente do meu, especialmente o PSD.
Quem vê a democracia representativa como grande conquista civilizacional,
não atribui o monopólio da verdade ou a fonte de todos os males a um único
partido, mas há razões para a acrimónia, a suspeição e o combate.
Nunca fiz a Rui Rio, apesar de se ter conformado com a
presença do partido fascista no Governo dos Açores, a ofensa de o considerar
igual a Passos Coelho ou de pensar que todos os militantes do PSD se reveem em
Relvas, Cavaco e Marco António, mas quando o País carece do PSD, encontra-o no
lado errado, naquele que a ditadura infetou.
O PSD teve líderes respeitáveis até à chegada de Cavaco
Silva, o primeiro salazarista a interromper a sequência de democratas, Sá
Carneiro, Emídio Guerreiro, Sousa Franco, Meneres Pimentel, Pinto Balsemão,
Rodrigues dos Santos, Mota Pinto e Rui Machete.
Fracassaram, após Cavaco, Fernando Nogueira, Manuela
Ferreira Leite e Marcelo, sem estigma de negócios suspeitos e com vocação
democrática, convertido o último.
Quando foi criado o SNS, o PSD votou contra, com o satélite
CDS, agora provisória ou definitivamente extinto; na primeira tentativa da
descriminalização da IVG nos casos de malformação fetal, risco de vida para a
mãe e violação, com 4 honrosas exceções, votou contra; no planeamento familiar
e na defesa da saúde reprodutiva da mulher, apesar da coragem e do precioso contributo
de Paulo Mendo e Albino Aroso, o PSD esteve quase sempre contra; na invasão do
Iraque, apoiou o crime; na censura à candidatura de ‘O Evangelho segundo Jesus
Cristo’, de Saramago, a um prémio literário, o cavaquismo foi o herdeiro dos
coronéis e padres da Censura, através de Sousa Lara; no ataque às datas
emblemáticas do país que somos, o 1.º de Dezembro e o 5 de Outubro, Passos
Coelho e Cavaco, por incultura, malvadez, ou ambas, extinguiram os feriados com
os militantes em vergonhoso silêncio cúmplice.
Sem remorso nem vergonha, quando o PS constituiu Governo com
apoio do BE, PCP e PEV, de Belém vinham urros de raiva para serem ouvidos na UE
e fazerem aumentar os juros da dívida, sem falar do ora catedrático, afogueado
pela fúria e impotência. Valeu a Portugal o desprezo a que a Europa os votou,
habituada à leveza ética e cegueira política dos protagonistas.
Nas últimas eleições diretas do PSD, a direita civilizada,
que repudia o partido fascista, perdeu-as para Luís Montenegro, e a outra,
embora sem entusiasmo, está com 40 % de abstencionistas e alguns eleitores
inventados, no redil que aguardava.
Raramente pudemos contar com o PSD. E no futuro? Montenegro
será substituído pela direita liberal e urbana ou a tralha cavaquista consegue
reconduzi-lo a novo mandato?
Cavaco Silva apareceu a disputar a Marcelo a oposição ao
Governo, e afirmou que cabe ao PSD denunciar “as atitudes eticamente
reprováveis” do PS, esquecendo as próprias e sem ter um Marques Mendes como
alter ego. O Dias Loureiro de Marcelo é mais eficaz.
O ex-PR acusa o PSD de Rui Rio de ter sido “suporte” do PS e
refere Montenegro como quem sabe “como é preciso fazer oposição”.
Cavaco referiu como “boa solução” a aliança do PSD com o partido fascista nos Açores. Não teve vergonha, e Montenegro aceita fazê-la no País.
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