Reino Unido – 70 anos de rainha
A rainha Isabel II é um caso raro de longevidade a assegurar a eternização de um regime obsoleto e a dar às revistas cor-de-rosa, e às especializadas em escândalos, descendentes para todos os gostos. Resistiu à prova das hormonas e adultérios da sua descendência.
Governadora Suprema da Igreja Anglicana, religião que não a
obriga a crer em Deus, é o elemento ornamental do país que finge ser imenso
depois de ter perdido o império e mantido o mais duradouro e sólido regime
democrático do mundo. A religião do Estado é o anglicanismo, e ninguém é
obrigado a praticá-lo. As exéquias litúrgicas têm como autoridade máxima o Arcebispo
de Cantuária, nomeado pela rainha e indicado pelo PM.
O seu alto posto na religião não lhe confere alvará para
dizer missa, celebrar casamentos ou transformar em benta a água do Tamisa, e
não lhe faltam bispos para lustrar as festas.
Reinou sob 14 primeiros-ministros, com Harold Wilson reincidente,
desde Sir Winston Churchill ao estouvado Boris Johnson que dificilmente será o
último. Durante 59 anos ininterruptos abriu os trabalhos do Parlamento onde leu
os planos do governo para o ano seguinte, como mera leitora do que o PM
escreve. Só no último ano deixou o palco ao idoso filho Carlos que só será rei
quando Deus se esquecer de salvar a rainha.
O Parlamento parece uma pocilga medieval onde falta espaço e
arejamento, mas é uma relíquia onde a democracia respira invejável saúde.
Setenta anos de ostentação régia é um recorde que deve ser
assinalado. A indústria do turismo deve-lhe as multidões de basbaques que vão a
Londres ao render da guarda no palácio de Buckingham e ignoram os museus mais
bem organizados do mundo e dos que têm mais ricos espólios.
A festa termina com abundantes feriados, festas, desfiles,
corridas de cavalos e exibição da família real. Hoje é o último dia da reinação
comemorativa do mais longevo reinado da História, com uma notícia que emocionou
os súbditos e dilacerou a rainha. Ontem o único cavalo de Isabel II, em
competição no Derby de Epsom, foi eliminado da corrida.
O espetáculo comemorativo foi levado a sério em todo o mundo,
incluindo os países da coroa britânica onde muitos cidadãos desconhecem que é a
velha senhora a sua chefe de Estado, do Canadá à Austrália.
Do evento, ficam na História os chapéus da Rainha Isabel, da
nora Camila, da mulher de Boris Johnson e da atriz estado-unidense Meghan
Markle, esposa do neto Enrique, as exuberantes criações do circo comemorativo
dos 70 anos de reinado da vetusta rainha que se agarrou ao trono como lapa às
rochas. São peças que valem mais do que as cabeças que cobrem.
Foi um divertimento republicano ver a apoteose da monarca na
decadência do regime, na desagregação do Reino e nos festejos de incomparável brilho
televisivo.
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É uma peça decorativa.