Condecorações – De Júlio Pereira a Luís Pitarma, passando por Cavaco

A instantes de perder o alvará para atribuir veneras, Cavaco Silva impôs o elevado grau de uma honrosa condecoração, grande-oficial da Ordem do Infante D. Henrique, a Júlio Pereira.

Sendo Júlio Pereira o estilista que desenhava a roupa à medida do corpo da Senhora D. Maria Cavaco Silva, não se duvidou do merecimento de tal peito para a venera, só se estranhou a omissão do sapateiro, da manicura e do cabeleireiro e a ausência da Ordem do Mérito Empresarial, Classe de Mérito Comercial, ao abastecedor de frutas e legumes do Palácio de Belém e a comenda do Mérito Industrial ao cozinheiro. Se nada havia a dizer quanto ao grau de grande-oficial da Ordem do Infante D. Henrique a Júlio Pereira, ficou por atribuir o de comendador ao fotógrafo dos netos, de cavaleiro ao sapateiro e o de dama à manicura da primeira-dama. Aliás, nunca mais terminariam os esquecidos.

Quando o atual PR recebeu o trespasse do alvará das condecorações, ainda no local da cerimónia, arremessou ao antecessor o mais alto grau da Ordem da Liberdade, o Grande Colar. Não se duvidou do mérito do pescoço para um Grande Colar, mas do acerto da Ordem da Liberdade a quem não tinha antecedentes comprometedores; em Goa, quando foi homenageado com um doutoramento, saiu-lhe o de Catedrático em Literatura. As homenagens foram justas, mas desajustadas as nomenclaturas.

O enfermeiro que tratou Boris Jonhson durante o internamento hospitalar com covid-19, o que só o livrou da aversão dos ingleses por usar o mesmo zelo nos cuidados a outros doentes, levou Marcelo a atribuir a Luís Pitarma o grau de Oficial da Ordem de Mérito.

Esqueceu os enfermeiros, os médicos, técnicos e outros profissionais de Saúde que, em Portugal, durante a pandemia, asseguraram a qualidade do SNS que, agora, os bastonários, interesses privados e todos os que votaram contra a sua criação se esforçam por destruir no mais feroz e concertado ataque a que não falta a cobertura mediática alarmista e a solidariedade dos interessados.

Há ainda muitos cachaços e ilustres da Pátria à espera de uma venera, que deviam levar o PR a trocar o frenesim de comentador por cerimónias de condecorações, para dar uma folga ao Governo e prescindir de liderar a oposição onde surgiu Cavaco a disputar-lha.

Para destruir o Governo bastam a inflação, o Marques Mendes, os media, a pandemia, a carestia da vida, a agitação social, a ansiedade generalizada e o clima internacional.

Ninguém sabe quando, como e em que situação nos deixará a crise em curso, mas não faltam vendedores de ilusões sobre o futuro radioso, se outro governo substituir o atual.

Marcelo ainda não tem alternativa. Moedas apaga-se e enreda-se. Por ora, só o almirante Gouveia e Melo ensaia com apoio mediático, emergir para a política, enquanto comanda a Marinha, se exibe em eventos sociais. O País sonha com novo D. Sebastião, e a ampla coligação de interesses, esperando por uma direita credível, esforça-se a desacreditar o Governo e a demonizar os partidos à sua esquerda. 


Comentários

Victor Nogueira disse…
D. Sebastião ou Sidónio Pais, "percussor" de Gomes da Costa?
Victor Nogueira:

É bem provável.

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